The Alters é daqueles jogos que chegam sem fazer muito barulho, mas deixam uma marca profunda quando você finalmente mergulha nele. Desenvolvido pelo estúdio 11 Bit Studios (conhecido por This War of Mine e Frostpunk), o jogo mistura elementos de gerenciamento de base, survival-crafting e uma narrativa cheia de camadas filosóficas. E, pra ser sincero, a combinação funciona muito melhor do que eu esperava.
Gráficos: Um Mundo Alienígena e Cheio de Personalidade
Logo de cara, The Alters chama atenção pela atmosfera visual. O planeta onde a história se passa é hostil, mas incrivelmente belo, com paisagens que parecem ter saído de um sonho (ou pesadelo) de ficção científica. A iluminação e os efeitos de partícula são bem trabalhados, especialmente durante as sequências em que o sol mortal se aproxima – um dos momentos mais tensos do jogo.

Dentro da base, os módulos são cheios de detalhes, dando aquela sensação de que o espaço foi realmente ocupado e personalizado pelos personagens. Os próprios Alters (as versões alternativas do protagonista) possuem designs distintos, refletindo suas personalidades e histórias de vida. Não é um jogo que vai competir com os títulos AAA em termos de polimento gráfico, mas a direção de arte é tão forte que compensa qualquer limitação técnica.
Sons: Imersão e Personalidade em Cada Diálogo
O trabalho de áudio em The Alters é simplesmente excepcional. A trilha sonora alterna entre temas melancólicos dentro da base e composições mais tensas durante as explorações externas, sempre reforçando a atmosfera do jogo. Mas o grande destaque aqui é a dublagem.
Alex Jordan, o ator que dá voz a todas as versões de Jan (o protagonista), faz um trabalho incrível. Cada Alter tem um tom de voz, sotaque ou até mesmo um jeito de falar diferente, e isso ajuda muito a diferenciá-los. É impressionante como um único ator consegue transmitir tantas personalidades distintas sem soar repetitivo. Além disso, os pequenos detalhes sonoros – como os ruídos dos equipamentos da base ou os sons ambientes do planeta – contribuem para uma experiência realmente imersiva.
Jogabilidade: Gerenciamento Sob Pressão
Se tem uma coisa que The Alters faz muito bem, é criar tensão. Este não é um survival-crafting relaxante onde você pode ficar minerando recursos por horas sem consequências. Aqui, cada decisão importa, e o tempo é um inimigo constante.

O sistema de Alters é o coração do jogo. Eles não são apenas clones utilitários – cada um tem uma personalidade, habilidades e desejos próprios. Alguns podem ser mais cooperativos, enquanto outros vão desafiar suas escolhas o tempo todo. Gerenciar o bem-estar deles enquanto mantém a base funcionando é um desafio estratégico que exige atenção constante.
A exploração também é recompensadora, já que além de coletar recursos, você encontra partes da carga perdida que revelam mais sobre o passado de Jan. Esses itens podem ser usados para melhorar o relacionamento com os Alters, adicionando uma camada narrativa à mecânica de coleta.
No entanto, o jogo pode ser brutal para quem não está acostumado com esse tipo de experiência. Se você não planejar direito, uma série de más decisões pode levar a um colapso total da base, forçando um load em saves anteriores. Isso pode frustrar alguns jogadores, especialmente porque não há um sistema de salvamento manual – o jogo só salva em momentos específicos.
História: Uma Narrativa Profunda e Reflexiva
A premissa de The Alters já é fascinante por si só: e se você pudesse conversar com versões alternativas de si mesmo, criadas a partir de escolhas diferentes na vida? O jogo explora essa ideia de forma inteligente, usando os Alters não só como ferramentas de gameplay, mas como espelhos que refletem as possibilidades não vividas do protagonista.
A narrativa é cheia de camadas, misturando mistério, drama pessoal e até um pouco de humor (graças aos vídeos de comédia que você pode assistir com sua equipe). Os diálogos são bem escritos, e as escolhas que você faz nas conversas têm impacto real no desenvolvimento dos personagens.
No entanto, a história não é perfeita. Em alguns momentos, o ritmo pode parecer arrastado, especialmente quando você precisa repetir certas tarefas de gerenciamento antes de avançar para o próximo evento narrativo. Além disso, algumas decisões parecem mais punitivas do que recompensadoras, o que pode deixar o jogador com uma sensação de frustração em vez de realização.

Conclusão: Vale a Pena?
The Alters é um jogo difícil de definir – e isso é parte do seu charme. Ele mistura elementos de survival, gerenciamento e narrativa de uma forma que poucos títulos se arriscam a fazer. Se você está procurando uma experiência desafiadora, com uma história profunda e mecânicas que exigem planejamento constante, esse jogo vai te prender por horas.
Por outro lado, se você prefere um survival mais aberto ou um jogo de gerenciamento sem tanta pressão narrativa, pode acabar se frustrando com a estrutura rígida de The Alters. A falta de um modo mais relaxante é uma falha significativa, especialmente considerando o quão densa e emocionalmente pesada a narrativa pode ser.
No fim das contas, eu recomendo The Alters, mas com ressalvas. É um jogo incrivelmente único, com uma direção de arte e narrativa memoráveis, mas exige paciência e disposição para lidar com sua curva de dificuldade. Se você está disposto a encarar o desafio, prepare-se para uma das experiências mais originais dos últimos tempos. Se não, talvez seja melhor esperar por uma atualização que torne a jornada um pouco mais acessível.
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