Chegou de mansinho nas plataformas, mas Twinkleby é daqueles jogos que, uma vez descobertos, tomam conta da sua rotina de uma forma sorrateira e deliciosa. Depois de mergulhar de cabeça nesse universo, fica claro que não se trata apenas de mais um título no gênero “cozy”, mas de uma experiência que consegue ser genuinamente única, mesclando uma estética encantadora com uma jogabilidade relaxante que, no entanto, esconde uma ou outra aresta que precisa ser lixada.
Vamos começar pelo que salta imediatamente aos olhos: os gráficos. A paleta de cores de Twinkleby é um espetáculo à parte. Tudo é vibrante, limpo e incrivelmente adorável. Os personagens, esses pequenos vizinhos que passeiam pelas ilhas flutuantes, são cheios de personalidade, com animações simples mas eficazes que transmitem suas emoções de forma clara. A interface do usuário (UI) segue essa mesma linha, sendo intuitiva e visualmente integrada ao mundo de fantasia do jogo. Não é uma experiência gráfica que vai exigir o último hardware do mercado, mas a direção de arte é tão competente que a estética se torna um dos pilares principais do jogo. Um ponto que poderia ser melhorado, no entanto, é a customização das casas. Embora seja possível decorar o interior, a parte externa, como a cor do telhado e das portas, é fixa, o que limita um pouco a expressividade do jogador na paisagem geral.

A trilha sonora e os efeitos de som são o complemento perfeito para a atmosfera. A música é suave, calma e composta de forma a nunca se tornar intrusiva ou repetitiva, mantendo aquele clima de tranquilidade que é a essência do jogo. Os sons dos passinhos dos vizinhos, o “ploft” quando um objeto é colocado, e até os chorinhos dramáticos quando alguém é “convidado a sair” da ilha – tudo é cuidadosamente desenhado para aumentar a imersão nesse mundinho flutuante. É um trabalho de sound design que, embora não seja revolucionário, é funcional e extremamente cativante.
Quando falamos de jogabilidade, Twinkleby se define por uma premissa simples, porém viciante. O ciclo principal envolve gerenciar uma série de ilhas flutuantes, atendendo às necessidades dos vizinhos que as visitam, colocando casas e mobílias para vê-los interagir com o ambiente. A moeda do jogo, as estrelas cadentes (Stellar), é coletada passivamente e usada para comprar novos itens e desbloquear novas ilhas. É um loop relaxante, quase meditativo, que não pressiona o jogador com objetivos complexos. No entanto, é preciso fazer uma ressalva: se você não é fã de jogos de decoração ou de um ritmo mais lento e contemplativo, pode achar que há momentos de ócio, esperando que algo aconteça.
Agora, a mecânica que merece um destaque especial e que, convenhamos, é uma genialidade, é a possibilidade de literalmente jogar coisas – e pessoas – para fora da ilha. Não quer mais aquela mesa? Joga no vazio. Acha que a casa ficou mal posicionada? Para o abismo com ela. E sim, isso inclui os vizinhos. Na verdade, você joga a mala pessoal deles, mas o efeito é o mesmo: vê-los choramingar e pular atrás da sua pertença é ao mesmo tempo hilário e um pouco cruel, despertando um lado destrutivo que você nem sabia que tinha. É um sistema de “descarte” incrivelmente satisfatório e que adiciona uma camada inesperada de interação.

Quanto à história, Twinkleby não apresenta uma narrativa profunda ou complexa. O foco está na jogabilidade e na coleção. O verdadeiro “endgame” e o desafio principal residem em encontrar todos os vizinhos raros. Estes só aparecem quando combinações específicas de mobílias e condições ambientais são atendidas. Este processo é puramente baseado em tentativa e erro e requer paciência, já que depende de esperar que os eventos certos aconteçam. É um quebra-cabeça orgânico que muitos vão adorar desvendar, mas que pode frustrar jogadores que preferem uma direção mais clara. A ausência de um sistema de dicas para estes colecionáveis é uma falha perceptível. Além disso, alguns itens dropados por esses vizinhos raros, como as Chaves Antigas, têm sua utilidade final um pouco obscura, deixando o jogador às cegas sobre como usá-las completamente – suspeita-se que seja para baús que dropam aleatoriamente, mas a documentação no jogo é nula.
Um ponto técnico que não pode ser ignorado, especialmente para os jogadores de Steam Deck, são os problemas de estabilidade. Relatos consistentes indicam que, conforme o save file avança e a vila se torna mais complexa, o jogo começa a sofrer com crashes frequentes, por volta de 10 minutos de sessão. Ajustar as configurações de resolução e gráficos parece não resolver o problema completamente, indicando uma questão de otimização de memória ou engine que os desenvolvedores precisam abordar urgentemente com um patch. É uma mancha significativa em uma experiência que, de outra forma, é perfeita para jogar portátil.

Conclusão: Vale a Pena a Jornada para Twinkleby?
A pergunta que fica é: eu recomendo Twinkleby? A resposta é um cauteloso, porém entusiástico, sim. O jogo consegue capturar a essência do que é um “cozy game” com uma maestria rara. É visualmente deslumbrante, sonoramente relaxante e possui uma jogabilidade que é ao mesmo vez simples e profundamente viciante. A mecânica de “jogar coisas fora” é uma das ideias mais originais e prazerosas que vi recentemente em jogos do gênero.
No entanto, é importante entrar de olhos abertos. A curta duração para 100% (cerca de 20 horas), a falta de opções de customização externa, a natureza obscura de alguns objetivos de colecionáveis e, principalmente, os problemas de crashes em fases avançadas do jogo são fatores que impedem a experiência de ser redonda. Considerando o preço cheio, talvez a melhor recomendação seja aguardar uma promoção ou, idealmente, que os desenvolvedores lancem uma atualização robusta para corrigir os problemas de estabilidade. Uma vez que essa questão técnica for resolvida, Twinkleby se consolidará não apenas como um jogo aconchegante, mas como um título obrigatório na biblioteca de qualquer fã do gênero. É um diamante em bruto que, com os devidos polimentos, tem tudo para brilhar com intensidade.
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