A espera por um novo capítulo na aclamada série de horror em plataforma finalmente acabou, mas dessa vez com uma mudança significativa nos bastidores. Com a Tarsier Studios, criadora original, partindo para novos projetos, a Supermassive Games (conhecida por títulos como Until Dawn e The Quarry) assume as rédeas de Little Nightmares III. A pergunta que paira no ar é: eles conseguiram capturar a magia sombria e perturbadora que define a franquia? A resposta, como tudo nesse universo, não é preto no branco, mas sim um denso tom de cinza. Esta análise mergulha a fundo nos aspectos técnicos e de design de Little Nightmares III para verificar se a jornada dos novos protagonistas, Low e Alone, justifica a entrada no temível Mundo Espiral.
Visual e Arte: O Ponto Alto Inquestionável
Se há uma área onde a Supermassive Games acertou em cheio, sem sombra de duvidas, foi na direção de arte e nos gráficos. O visual de Little Nightmares III é, simplesmente, deslumbrante e mantém-se fiel à identidade visual estabelecida pelos jogos anteriores. A atmosfera pesada e opressiva, característica da série, está mais presente do que nunca. Os novos cenários, como o desolado Deserto de Areia e a inquietante Necrópole, são ricos em detalhes e contam histórias por si só através de sua composição visual.

A iluminação continua sendo uma personagem principal. O uso magistral de claridade e escuridão cria momentos de tensão visual incríveis, onde o jogador fica genuinamente relutante em avançar para a próxima poça de sombras. Os modelos de Low e Alone são fantasticamente elaborados, com suas pequenas expressões de medo e determinação visíveis mesmo em seus rostos estilizados. Os inimigos e “chefões” também possuem um design criativo e perturbador, mesmo que, sob uma análise mais técnica, possa-se argumentar que alguns deles pareçam uma reciclagem conceitual de ameaças de títulos passados. No entanto, a execução é impecável, fazendo do Mundo Espiral um lugar horrivelmente belo para se explorar.
Trilha Sonora e Sound Design: A Alma do Medo
Assim como seus predecessores, Little Nightmares III entende que o silêncio pode ser tão aterrorizante quanto um susto sonoro. A trilha sonora é utilizada com extrema precisão, surgindo nos momentos certos para elevar a tensão ou para punctuar uma descoberta importante. Os temas são memoráveis e se encaixam perfeitamente na ambientação, nunca roubando a cena, mas sempre complementando a experiência de maneira sutil e eficaz.
O sound design, por sua vez, é um trabalho de primor. Cada rangido de uma placa de metal, cada gota d’água caindo à distância e cada respiração ofegante dos protagonistas é capturada com uma clareza que imerge o jogador completamente nesse mundo hostil. Os sons emitidos pelas criaturas são particularmente eficazes em causar desconforto, construindo uma apreensão constante que é fundamental para o gênero. É, sem exageros, uma aula de como usar o áudio para contar uma história e evocar emoções.
Jogabilidade: Fluidez com Alguns Tropeços Inesperados
A jogabilidade de Little Nightmares III mantém a fórmula clássica da série: plataforma 2.5D, resolução de puzzles e furtividade para sobreviver a perseguições. A sensação de controle sobre Low e Alone é geralmente muito boa, com movimentos fluidos e responsivos. A grande novidade é a opção de jogar em modo cooperativo online, onde cada jogador controla um dos protagonistas. Esta é, inegavelmente, a maneira mais gratificante de experienciar o jogo, pois a necessidade de coordenação para resolver puzzles adiciona uma camada interessante de envolvimento.
No entanto, é aqui que encontramos alguns dos principais tropeços. Quando jogado no modo solo, o companheiro controlado pela inteligência artificial (IA) pode ser uma fonte de frustração. É comum ele ficar preso em obstáculos, não responder com a agilidade necessária durante sequências de fuga ou atrapalhar momentaneamente a execução de uma ação precisa. Além disso, a campanha principal é notavelmente curta. Jogadores experientes podem facilmente ver o créditos finais em uma sessão de poucas horas.

Outro ponto que merece análise técnica é a profundidade dos desafios. Os puzzles, em sua grande maioria, são simples e diretos, frequentemente baseados no clichê de “arraste o caixote e puxe a alavanca”. Embora funcional, essa simplicidade pode deixar os fãs da série, acostumados com quebra-cabeças mais elaborados como os encontrados na cozinha do Olho ou na sala de jantar dos Gnomos, com uma sensação de subutilização do potencial do mundo. As sequências de perseguição, por sua vez, embora visualmente impressionantes, carecem da intensidade e da apreensão visceral das cenas icônicas com a Senhora de Vestido Amarelo ou o Caçador.
História e Conteúdo: Respostas e um Futuro Comercial
A narrativa de Little Nightmares III parece buscar uma abordagem mais estruturada e explícita do que as entregas anteriores. A impressão que fica é que a Supermassive Games se baseou fortemente no áudio-série “The Sounds of Nightmares” para construir seu enredo, oferecendo respostas mais concretas sobre a natureza do Mundo Espiral. Para os fãs hardcore que acompanham o lore expandido, isso pode ser uma faca de dois gumes: por um lado, satisfaz a curiosidade, por outro, reduz o espaço para teorias e interpretações pessoais, um dos grandes trunfos da narrativa ambiental da série.
A campanha, como dito, é curta. E este fato se torna mais saliente quando considerado o preço de lançamento do jogo, que está posicionado em uma faixa considerada elevada para a quantidade de conteúdo oferecido na experiência principal. A situação é agravada pelo anúncio de que DLCs pagas já estão planejadas para adicionar conteúdo futuro. Essa estratégia comercial, comum na indústria, gera uma sensação de produto incompleto no lançamento, onde o jogador paga um valor premium por uma base que será expandida posteriormente com custo adicional.

Conclusão: Recomendação com Ressalvas
Little Nightmares III é um jogo bom, porém não é um jogo incrível. A Supermassive Games demonstra grande competência em manter a identidade visual e sonora da franquia, entregando um produto que parece e soa como uma genuína aventura de Little Nightmares. A jogabilidade é sólida e a adição do coop online é um passo bem-vindo, apesar dos problemas com a IA em modo solo.
As maiores críticas recaem sobre a curta duração, a simplicidade de alguns desafios e, principalmente, a relação preço-conteúdo no lançamento. O jogo não é ruim, longe disso, mas também não atinge o patamares de excelência e inovação que seus antecessores consolidaram.
Portanto, a recomendação final é condicional. Para fãs dedicados da franquia, ansiosos por qualquer novo conteúdo e para desvendar mais peças do quebra-cabeça narrativo, Little Nightmares III é uma jornada válida, especialmente se jogada em cooperação. No entanto, para o jogador casual ou para aqueles sensíveis ao custo-benefício, a sugestão é aguardar por uma promoção substancial. A experiência, embora competente e visualmente impressionante, não justifica plenamente o investimento inicial, tornando-se uma proposta muito mais atraente quando adquirida com um desconto considerável.
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