Towa and the Guardians of the Sacred Tree foi uma daquelas surpresas que a gente encontra meio por acaso. Este é um título com uma alma magnífica, mas que peca em alguns aspectos fundamentais da jogabilidade, criando uma experiência bastante divisiva.
Vamos começar pelo que é, sem sombra de dúvidas, o ponto alto absoluto do jogo: a sua narrativa e a apresentação. A história não se limita a seguir apenas os nove protagonistas principais. Ela tece uma tapeçaria rica envolvendo toda uma comunidade, explorando temas profundos como o legado, a passagem do conhecimento entre gerações e os laços familiares e de mestria, muitas vezes confrontados com situações de separação e sacrifício. A sensação de que o mundo evolui junto com o progresso do jogador é palpável.

A decisão de dublar integralmente a campanha principal é um acerto colossal, imergindo o jogador de maneira completa no universo do jogo. Um detalhe que merece um elogio à parte é a inclusão de cenas de acampamento específicas para cada dupla possível entre os nove guardiões, somando trinta e seis combinações únicas com diálogos exclusivos. Esse nível de cuidado com a caracterização dos personagens é raro e elevou enormemente a minha conexão com o elenco. Após concluir a história principal, o jogo libera o acesso a todo o conteúdo narrativo, que pode ser desbloqueado com recursos coletados, poupando o jogador de ter que “farmar” excessivamente – uma gentileza muito bem-vinda.
Infelizmente, é quando pegamos no controle que a experiência começa a dar sinais de fragilidade. A jogabilidade de Towa se enquadra no gênero roguelite, onde o jogador explora masmorras geradas proceduralmente em missões que podem ser bastante longas. O combate em si é funcional, mas carece profundamente de evolução. O sistema de buffs e melhorias encontrados durante as runs é composto majoritariamente por bônus percentuais incrementais, muitas vezes na faixa de 1% a 3%, o que é quase imperceptível na prática. Isso resulta em uma sensação de que a sua build não muda significativamente do início ao fim de uma partida, ou mesmo entre uma partida e outra. Você acaba se especializando em um único estilo de ataque e simplesmente acumula melhorias mínimas para ele, faltando aquela sensação de poder e sinergia explosiva que outros títulos do gênero oferecem.

Um dos problemas mais críticos reside no controle da personagem secundária, Kagura. A implementação dela beira o malfeito. Diferente de sistemas similares em outros jogos, Kagura não possui uma inteligência artificial que a faça desviar automaticamente de ataques inimigos. Em um jogo onde os chefes e inimigos elites possuem ataques de área extensos, isso se torna um pesadelo. É extremamente comum o jogador desviar com sucesso do ataque com o personagem principal, apenas para ver Kagura ser atingida em cheio e morrer na mesma jogada. Com o tempo, a estratégia mais viável é praticamente ignorar a sua existência, o que anula completamente o propósito de se ter um parceiro de combate. É um elemento que, na minha opinião, precisaria de uma revisão completa.
A duração das masmorras também é um ponto de atrito. Enquanto as primeiras podem ser concluídas em cerca de meia hora, as fases mais avançadas do jogo exigem compromissos de 40 minutos a uma hora, com a batalha final contra o chefão principal chegando à marca de setenta minutos. Para um gênero que normalmente valoriza sessões mais rápidas e dinâmicas, essa extensão pode ser exaustiva, especialmente se você falhar perto do final e tiver que recomeçar do zero. A presença de inimigos elites com paletas de cores alternativas (uma espécie de “2P” ou “3P”) adiciona variedade visual, mas a mecânica de combate contra eles não difere o suficiente para justificar a repetição.
O combate em si tem um estilo peculiar. Os ataques inimigos são quase sempre sinalizados previamente no chão, o que, em teoria, facilita a esquiva. No entanto, a jogabilidade é ajustada com a premissa de que o jogador não deve ser atingido. Ataques que acertam o personagem são significativamente dolorosos. O dash de evasão não possui frames de invencibilidade, tornando impossível realizar desvios no último milésimo de segundo. Somado a isso, a recuperação após uma sequência de ataques básicos é um pouco lenta, incentivando uma postura conservadora de “atingir e recuar”. Isso confere ao jogo uma sensação mais próxima de títulos de ação mais antigos, focados em posicionamento tático e paciência, em contraste com a ação frenética e estilizada de um Hades, por exemplo. Para quem aprecia esse estilo, pode ser um ponto positivo, mas jogadores que buscam um combate mais fluido e agressivo podem se frustrar.

Um aspecto interessante é o sistema de forja. O jogador pode escolher entre um modo “Normal”, com presets pré-definidos que podem ser posteriormente personalizados, e um modo “Avançado”, onde toda a criação da lâmina é manual. O modo Avançado oferece mais liberdade e gera uma arma com maior apego emocional, mas contém elementos de irreversibilidade que podem intimidar os menos experientes. É um sistema que atende bem a diferentes tipos de jogador, permitindo tanto uma experiência mais direta quanto uma profundidade considerável para os que gostam de minuciar cada detalhe.
Conclusão: Recomendar ou Não?
Towa and the Guardians of the Sacred Tree é, inegavelmente, um jogo de nicho. A sua narrativa envolvente, a dublagem excelente e o carinho evidente na construção do mundo e dos personagens formam uma base sólida para uma experiência memorável. Se você é um jogador que prioriza profundidade narrativa e construção de mundo acima de tudo, há muito o que apreciar aqui. No entanto, as falhas significativas na jogabilidade – notadamente a inteligência artificial da companheira, a progressão de poder pouco gratificante e a duração extensa das masmorras – são obstáculos consideráveis.
A comparação com Hades é inevitável, mas talvez injusta. Enquanto Hades é um action roguelite com elementos de RPG, Towa é um RPG com uma camada de roguelite. O foco está na história e no desenvolvimento estatístico dos personagens, e não no refinamento absoluto do combate. Se você entrar no jogo esperando uma experiência idêntica à de Hades, sairá profundamente desapontado. Mas se estiver disposto a aceitar suas idiossincrasias em prol de uma narrativa tocante e um universo ricamente detalhado, pode encontrar aqui uma jóia imperfeita, porém valiosa. A recomendação, portanto, vem com um asterisco: experimente a demo antes de comprar para ter certeza de que o seu estilo de jogo se alinha com o que Towa tem a oferecer.
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