Quando você inicia The Last Case of John Morley, a primeira impressão é de que está entrando em um filme noir de orçamento modesto. A proposta é clássica: você é o detetive John Morley, um homem atormentado por um passado trágico, recebendo a incumbência de uma mulher que busca o verdadeiro assassino de sua filha, um crime que ocorreu duas décadas atrás. A premissa promete uma jornada introspectiva e sombria, e em alguns aspectos, o jogo entrega. Mas será que a experiência como um todo justifica o investimento? Vamos destrinchar os elementos.
Gráficos e Atmosfera: O Jogo das Sombras
Os gráficos de The Last Case of John Morley são, vamos ser sinceros, bem simples. Não espere texturas ultra detalhadas ou modelos de personagens expressivos. No entanto, a direção de arte tenta compensar essa limitação com um uso intenso – e muitas vezes excessivo – de iluminação e sombras. O jogo é escuro. Muito escuro. Em certos momentos, essa escolha cria uma atmosfera claustrofóbica e misteriosa que funciona, especialmente nos ambientes internos da mansão onde boa parte da trama se passa.

O problema é que o jogo parece usar a escuridão como uma muleta. Há situações em que, mesmo com a lanterna do personagem acesa, o campo de visão é frustrantemente limitado. E pior: existem áreas onde você simplesmente não tem uma fonte de luz, forçando você a andar aos tropeços no breu. Isso pode ser interpretado como imersivo por alguns, mas para a maioria, acaba sendo uma decisão irritante que atrapalha a exploração. Um ponto positivo, no entanto, fica para as paisagens externas em certos momentos da narrativa, que apresentam uma composição visual mais equilibrada e agradável, com uma paleta de cores melancólica que casa bem com o tom da história.
Som e Trilha Sonora: O Ponto Alto da Imersão
Se há uma área onde The Last Case of John Morley acerta em cheio, é no som. A trilha sonora é discreta, porém extremamente eficaz. Ela não rouba a cena, mas está sempre presente, construindo a tensão e reforçando o clima de mistério e solidão. Os efeitos sonoros também são competentes: o rangido de um assoalho, o bater da chuva contra os vidros, o som distante de um trovão. Tudo contribui para criar aquele ambiente “pé no saco” que um bom thriller psicológico precisa.
O jogo também utiliza bem o recurso da voz interna do detetive. Ouvir os pensamentos de Morley, suas dúvidas e seus traumas, é um mecanismo narrativo que funciona e ajuda a criar uma conexão com o personagem, mesmo que ele não seja profundamente desenvolvido. É aqui que a experiência encontra seu momento mais cativante.
Jogabilidade e Quebra-Cabeças: Onde a Magia se Desfaz
É na jogabilidade que o jogo mostra suas fraquezas mais gritantes. Apesar de você controlar um detetive, não espere nenhum sistema complexo de dedução ou coleta de provas para formar teorias. O cerne da interação se resume a explorar ambientes lineares, clicar em objetos para examiná-los e, ocasionalmente, resolver puzzles extremamente simples.

A maior parte dos “enigmas” consiste em encontrar uma chave ou um código numérico para abrir uma porta. E aqui vem um dos pontos mais criticáveis: a falta de desafio. Em vários casos, o código de um cadeado está simplesmente anotado em um papel na mesa ao lado, como “12345”. Não há qualquer camuflagem ou necessidade de raciocínio. É um processo mecânico que subestima a inteligência do jogador. Essa simplicidade excessiva encurta drasticamente a jornada. Um jogador médio conseguirá ver os créditos finais em pouco mais de 2 horas, e não há elementos de replay, como finais alternativos ou segredos significativos, para justificar um retorno.
Além disso, alguns relatos técnicos, principalmente na versão para PC, mencionam quedas de FPS em certos cenários, o que pode quebrar a fluidez da experiência. É um problema que não atinge todos, mas está presente.
História e Narrativa: Potencial Não Aproveitado
A história de The Last Case of John Morley tem uma base sólida e um núcleo emocional interessante – a busca por redenção e a confrontação com fantasmas do passado. No entanto, a execução peca pela previsibilidade. Quem está familiarizado com thrillers psicológicos e narrativas de mistério familiar vai identificar os principais plot twists e revelações desde os primeiros atos. A sensação de “já vi isso antes” é forte.
A tradução para o português (tanto a versão PT-BR quanto a analisada em PT-PT) é outro ponto problemático. Embora compreensível, ela sofre com frases excessivamente literais e construções fora da ordem natural, como o estranho “É necessário evitá-lo” que aparece em um momento crucial. Em algumas interfaces, os textos nem cabem completamente nas caixas de diálogo, cortando parte da informação. Esses descuidos técnicos e de localização prejudicam muito a imersão e a fluência da narrativa, que é o principal ativo do jogo.

Conclusão: Recomendação Cautelosa
The Last Case of John Morley é um jogo de contradições. Ele cria uma atmosfera sonora e visual competente que promete muito, mas falha em entregar uma jogabilidade à altura. A história, apesar de ter um coração, é contada de forma convencional e sofre com problemas técnicos de tradução.
Então, recomendo ou não? A resposta é: depende. Se você é um jogador casuais que busca uma experiência curta e atmosférica, sem grandes exigências de desafio ou profundidade mecânica, e consegue ignorar falhas de localização, pode encontrar algum valor aqui, especialmente se estiver em promoção. O jogo cumpre o papel de uma “novela interativa” rápida.
Porém, se você procura um jogo de investigação robusto, com puzzles desafiadores, uma narrativa original e uma relação custo-benefício mais equilibrada em relação às suas 2 horas de duração, provavelmente sairá decepcionado. The Last Case of John Morley é como um conto bem ambientado, porém esquecível, que deixa a sensação de que poderia ter sido muito mais do que é.
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