Chegar a um jogo como Strange Antiquities traz aquela mistura familiar de expectativa e um pé atrás. Depois do sucesso absoluto de Strange Horticulture, que se firmou como um dos títulos mais originais e cativantes dos últimos anos, a pergunta que fica é: a Bad Viking conseguiu capturar a mesma magia? A resposta, para alívio de muitos, é um retumbante sim. Strange Antiquities não apenas mantém a fórmula que fez o primeiro jogo brilhar, mas também expande o universo de Undermere de maneira substancial, oferecendo uma experiência mais complexa e, em muitos aspectos, mais desafiadora.
A premissa básica é familiar para os fãs: você assume o controle de uma loja, mas em vez de plantas misteriosas, lida com artefatos ocultos e perigosos. O ciclo diário de atender clientes, cada um com suas demandas peculiares, e identificar os objetos corretos a partir de um catálogo crescente permanece o cerne da jogabilidade. No entanto, é aqui que as primeiras e mais significativas diferenças surgem, moldando uma identidade própria para este novo capítulo.

Jogabilidade: Profundidade e Complexidade Ampliadas
Se Strange Horticulture era uma introdução acolhedora a esse gênero de simulação de quebra-cabeças, Strange Antiquities é o curso avançado. A complexidade aumentou consideravelmente. A quantidade de recursos que precisam ser cruzados para identificar um único artefato é maior. Você se encontrará constantemente folheando o compêndio de antiguidades, consultando guias de símbolos, decifrando cartas e notas, e correlacionando pistas de uma maneira que exige uma atenção meticulosa.
Isso pode soar intimidador, e de fato é mais desafiador, mas a Bad Viking implementou melhorias de qualidade de vida brilhantes que evitam a frustração. O índice na parte de trás do livro principal é uma salvação, permitindo navegar rapidamente entre as dezenas de entradas. O jogo é desafiador, mas notavelmente clemente. Cometer muitos erros ao atender um cliente leva a uma sequência de “insanidade”, um minigame simples que, uma vez superado, simplesmente reinicia você no último encontro antes da falha, sem punições severas como resetar o dia inteiro. É um sistema misericordioso que respeita o tempo do jogador.
Outro acerto colossal é o sistema de dicas progressivas. Para quem realmente travar em um quebra-cabeça, é possível solicitar uma ajuda. A beleza está na progressão: a primeira dica é vaga, apenas colocando você no caminho certo; as seguintes vão se tornando mais específicas até, na última instância, dar a resposta direta. Isso garante que jogadores de todos os níveis possam progredir sem se sentir completamente perdidos, mantendo o senso de descoberta para quem prefere se virar sozinho.

Além da loja, a exploração do mapa de Undermere ganhou um peso muito maior. Os enigmas baseados em cartas e notas, que exigem percorrer a cidade em busca de locais específicos, são mais numerosos e centrais para a trama. A sensação de ser um detetive ocultista, conectando pistas espalhadas pela cidade, é intensa e gratificante. No entanto, é válido apontar que alguns desses quebra-cabeças de mapa podem ser um pouco hostis para quem tem dificuldades com orientação espacial, exigindo um olhar muito atento aos detalhes visuais.
Gráficos e Atmosfera: Uma Loja Sombria e Convidativa
A identidade visual permanece fiel ao estilo do primeiro jogo. A arte é detalhada e cheia de personalidade, especialmente nos desenhos dos artefatos e nos cenários da loja. A paleta de cores, no entanto, é naturalmente mais terrosa e sombria. Enquanto Strange Horticulture brilhava com os verdes e cores vibrantes das plantas, Strange Antiquities abraça tons de marrom, dourado desbotado e azuis profundos, refletindo o tema de objetos antigos e misteriosos. A loja em si é um personagem, com seus cantos escuros e prateleiras poeirentas que vão ganhando vida conforme você a customiza com as relíquias adquiridas. A atmosfera é densa, imersiva e perfeitamente alinhada com a temática oculta.
Som: A Trilha Sonora do Oculto
A trilha sonora merece um destaque especial. Ela é sutil, quase sempre presente como um pano de fundo ambiental, mas extremamente eficaz em construir a tensão e o mistério. Acordes graves e melodias discretas acompanham suas descobertas, aumentando o impacto de cada nova revelação. Os efeitos sonoros são igualmente precisos: o virar de uma página, o colocar de um artefato no balcão, o sino da porta da loja. São detalhes que, combinados, solidificam a imersão neste mundo peculiar.
História e Mundo: Uma Teia de Mistérios e Consequências
A narrativa é outro ponto onde Strange Antiquities brilha. O jogo expande o worldbuilding de Undermere, apresentando uma teia de mistérios sombrios e personagens intrigantes. Assim como no predecessor, suas escolhas ao atender os clientes importam, frequentemente apresentando dilemas que podem bloquear finais específicos ou alterar o curso da história. A sensação de que suas decisões têm peso real é palpável, incentivando múltiplas jogadas para explorar todos os caminhos.

A qualidade da escrita, em termos de construção de enredo, é excelente. No entanto, é crucial abordar um ponto levantado por alguns jogadores: a tradução para certos idiomas pode apresentar problemas. Relatam-se desde erros de digitação até traduções que ignoram o contexto, o que pode, pontualmente, quebrar a imersão ou dificultar a compreensão de uma dica crucial. É um aspecto que vale a pena os desenvolvedores revisarem em futuras atualizações para polir completamente a experiência para todos os públicos.
Alguns quebra-cabeças mais tardios, principalmente aqueles envolvendo os “campos táumicos” (thaumic fields), podem ser um tanto obscuros. Seria benéfico se o jogo registrasse essas descobertas em algum lugar, assim como faz com todas as outras pistas em papéis e livros. A ausência desse registro fez com que muitos jogadores, inclusive este que escreve, recorressem a uma velha caneta e caderno para anotações, o que soa um tanto dissonante em um jogo que tão bem integra suas pistas na interface.

Conclusão: Recomendação sem Reservas com um Adendo
Strange Antiquities é uma sequência magistral. Ele pega a fórmula única e viciante de Strange Horticulture e a aprimora com mais camadas de complexidade, uma narrativa mais profunda e um mundo mais rico para explorar. A sensação de genialidade ao decifrar um artefato complicado ou conectar pistas espalhadas pela cidade é incomparável.
A recomendação, portanto, é entusiástica. Para quem amou o primeiro jogo, este é uma compra obrigatória. No entanto, há um adendo importante. Strange Antiquities é significativamente mais desafiador. A curva de aprendizado é mais íngreme e a quantidade de informações a gerenciar é maior. Dito isso, se você é novo nesse tipo de experiência e a ideia de um desafio cognitivo denso soa intimidante, talvez seja mais prudente começar por Strange Horticulture. Ele serve como uma introdução perfeita e mais acessível à mecânica central.
Para todos os demais, aqueles que anseiam por um jogo de quebra-cabeças profundo, imersivo e que te trata como um adulto capaz, Strange Antiquities é uma joia rara. É a prova de que a Bad Viking não acertou por acaso da primeira vez. Eles dominam a arte de criar mundos misteriosos nos quais queremos nos perder repetidas vezes. Mal posso esperar para ver para onde nos levarão a seguir.
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