Desde os tempos antigos dos jogos em Flash, há algo intrinsecamente divertido em controlar um simples stickman e causar o caos absoluto. Stick It to the Stickman, desenvolvido pela talentosa Free Lives (dos aclamados Broforce e Anger Foot) e publicada pela sempre irreverente Devolver Digital, não apenas resgata essa essência como a eleva a um patamar completamente novo de criatividade e puro divertimento. Este não é apenas mais um roguelite no mercado; é uma declaração de amor ao gênero e uma sátira ferina ao mundo corporativo, tudo envolto em um pacote de golpes satisfatórios e física hilária.
Jogabilidade: O Sublime Caos Tático
A jogabilidade é, sem sombra de dúvidas, a estrela absoluta de Stick It to the Stickman. O conceito central gira em torno de escalar uma torre de escritórios, andar por andar, espancando colegas de trabalho e chefes até chegar ao topo e derrubar o CEO. Soa simples? A genialidade está nos detalhes e na profundidade oferecida.

Você inicia escolhendo um personagem com um conjunto inicial de golpes, mas a verdadeira mágica acontece com a progressão. A cada andar concluído, você escolhe entre três novos movimentos ou melhorias. A variedade é impressionante: de socos e chutes básicos a poderes especiais que remetem a clássicos dos jogos de luta, como um Shoryuken devastador, ou até mesmo armas de fogo e habilidades absurdas como arrotos e flatulências tóxicas. A possibilidade de “evoluir” um golpe duas vezes para alcançar sua versão definitiva adiciona uma camada estratégica deliciosa, incentivando a experimentação.
A física do jogo é um espetáculo à parte. Golpear um inimigo e vê-lo voar pela janela, colidindo com mesas, quebrando computadores e espalhando papéis para todo lado é incrivelmente satisfatório. A sensação de impacto e peso é tangível, tornando cada encontro uma pequena obra de destruição anárquica. Apesar do caos aparente, há espaço para estratégia. Diferentes inimigos requerem abordagens distintas, e a construção da sua “build” de movimentos e melhorias (que vão desde aumentos de dano até habilidades completamente nonsense, como uma corrida no estilo Naruto) é crucial para sobreviver aos andares mais altos.
Além do modo Torre principal, o jogo já oferece outros modos robustos no early access. O modo “Runner” é um desafio de plataforma e velocidade para entregar pacotes, enquanto o “Autobattler” é uma surpresa fantástica, exigindo que você monte uma sequência lógica de golpes para derrotar oponentes automaticamente, quase como um jogo de xadrez violento. A promessa de mais modos e conteúdo no futuro só aumenta o valor de repescagem.
Gráficos e Estilo Visual: Minimalismo com Personalidade
Falar que Stick It to the Stickman tem “gráficos simples” é tecnicamente verdade, mas também é uma grande injustiça. O estilo visual minimalista dos stick figures é intencional e executado com uma maestria que confere uma identidade visual única. A falta de detalhes faciais ou corporais é compensada por animações extremamente expressivas e cheias de personalidade. A maneira como um inimigo segura a barriga após levar um soco, ou como ele tropeça desorientado, é cheia de vida.

O verdadeiro charme visual, porém, está no ambientação e na destruição. Os cenários de escritório são recheados de objetos interativos que reagem magnificamente à ação. A sensação de caos é visualmente traduzida pela bagunça que você deixa para trás a cada batalha. É importante notar que, embora o estilo seja minimalista, a otimização ainda pode sofrer em momentos de pico de ação, com muitos inimigos e objetos físicos simultâneos, causando leves quedas de framerate. É um ponto que, espera-se, será melhorado durante o período de early access, assim como foi em Anger Foot.
Som e Trilha Sonora: A Trilha Sonora do Escritório Insano
A trilha sonora de Stick It to the Stickman é um acerto completo. Ela captura perfeitamente o tom absurdo e satírico do jogo. Os desenvolvedores mencionaram em entrevistas que se inspiraram em músicas de espera de elevador e de chamadas telefônicas, transformando esses conceitos mundanos em batidas eletrônicas energéticas e grooves cativantes que aceleram o ritmo da carnificina.
Os efeitos sonoros são igualmente cruciais para a satisfação da jogabilidade. O estalido seco de um soco, o estrondo de um corpo colidindo com uma parede, o tilintar de vidro quebrando e os sons absurdos de habilidades especiais se combinam para criar uma cacofonia perfeitamente orquestrada de violência cômica. Cada ação tem um feedback sonoro que a torna mais prazerosa.
História e Narrativa: Sátira Ácida sob o Capuz
Para quem pensa que Stick It to the Stickman é apenas uma brincadeira sem sentido, está enganado. Por trás do humor escrachado e das referências a pop culture, existe uma narrativa surpreendentemente astuta e uma sátira afiada ao capitalismo moderno e à cultura corporativa tóxica.
A escalada pela torre corporativa é uma metáfora direta e brutal pela luta por poder. A premissa de “derrotar o chefe para se tornar o novo chefe” fala sobre um ciclo vicioso de opressão. O jogo critica a ideia de que as pessoas são meros números, substituíveis, e como a busca obsessiva pelo sucesso financeiro e pela ascensão na carreira pode esmagar a humanidade de cada um. O ambiente de escritório genérico e os inimigos “colegas de trabalho” reforçam a crítica à despersonalização e à alienação no ambiente de trabalho. É um jogo que, sem ser pretensioso, consegue ser inteligente e fazer você refletir enquanto ri da desgraça alheia.

Conclusão: Uma Recomendação Absoluta e Sem Ressalvas
Stick It to the Stickman é uma joia rara. É um jogo que entende perfeitamente que o objetivo primordial de um game é divertir, e ele entrega isso com uma generosidade e uma criatividade absurdas. A jogabilidade é viciante e profundamente satisfatória, os modos de jogo oferecem variedade substancial, o humor é inteligente e a sátira é pertinente.
O fato de estar em early access com um conteúdo já tão polido e com um roadmap promissor é apenas um bônus. A equipe da Free Lives tem um histórico comprovado de ouvir a comunidade e aprimorar seus jogos continuamente. Pelo preço atual, que é mais acessível que um lanche, o valor oferecido é excepcional.
Portanto, a recomendação é clara e enfática: SIM, compre Stick It to the Stickman. É um jogo essencial para fãs de roguelites, de action games caóticos e para qualquer um que aprecie uma boa dose de humor negro e críticas sociais inteligentes embaladas em uma experiência visceral e simplesmente hilária. É pura diversão em sua forma mais concentrada e um strong candidate para figurar entre os melhores indies do ano.
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