Perennial Order não é um jogo para todo mundo, e isso é provavelmente o seu maior elogio. Ele chega com a promessa de um desafio implacável, inspirado nos grandes nomes do gênero soulslike, e entrega exatamente isso: uma experiência intensa, frustrante às vezes, mas incrivelmente recompensadora para quem tem a perseverança de encarar seus obstáculos. Desenvolvido com uma identidade visual marcante, o jogo se destaca não por ser mais um no mercado, mas por ousar em sua própria mecânica central punitiva.
Os gráficos de Perennial Order são, sem sombra de dúvidas, um dos seus pontos altos mais absolutos. O estilo artístico é deslumbrante, criando um mundo decadente e ao mesmo tempo vibrante, cheio de vida e perigo. A paleta de cores é cuidadosamente escolhida para cada ambiente, passando dos tons soturnos e claustrofóbicos de cavernas para a vegetação exuberante e alienígena de florestas corruptas. A direção de arte é simplesmente impecável, dando ao jogo uma personalidade única que gruda na memória. No entanto, essa beleza tem um pequeno preço: a quantidade de detalhes colocados no cenário, especialmente no foreground, pode atrapalhar a navegação em alguns momentos, fazendo com que o jogador se perca ou não identifique claramente um caminho, o que pode quebrar um pouco o ritmo entre uma luta épica e outra.

A jogabilidade é o cerne da experiência e onde Perennial Order mais vai dividir opiniões. O combate é tight (apertado, preciso), exigindo timing preciso e leitura dos padrões de ataque dos inimigos. A premissa de morrer com um único golpe força o jogador a realmente aprender cada movimento dos chefes, tornando cada vitória uma conquista ejetada de adrenalina. É aqui que a jogabilidade brilha: na sensação de superação após derrotar um oponente que te massacrou dezenas de vezes. A variedade de habilidades à disposição oferece margem para experimentar diferentes builds e abordagens, o que adiciona camadas de profundidade estratégica.
Contudo, nem tudo são flores no campo de batalha. As hitboxes (áreas de colisão) dos ataques inimigos são, para ser direto, meio jank (travadas/imperfeitas). Curiosamente, a jankiness geralmente funciona a favor do jogador, com ataques passando misteriosamente perto sem causar dano. O problema real surge quando se tenta usar o movimento de parry (aparar). A imprevisibilidade das hitboxes torna o parry um movimento extremamente arriscado e frequentemente frustrante, já que o timing visual não corresponde consistentemente ao mecânico. A dica mais valiosa para qualquer iniciante é: ignore o parry. É um fastpass direto para evitar frustração desnecessária. A navegação geral também sofre um pouco devido à profusão de elementos visuais, como mencionado anteriormente.

A trilha sonora merece um capítulo à parte. A música é pontual, atmosférica e composta de forma magistral para elevar a tensão de cada encontro com um chefe. Ela mergulha o jogador naquele mundo desolado, acrescentando uma camada crucial de imersão. Os efeitos sonoros são igualmente competentes, com cada golpe, passo e grunhido soando com o peso e o impacto adequados, feedback essencial num jogo onde cada ação tem consequências tão severas.
A história de Perennial Order é contrada de maneira sutil, através da ambientação, lore notes (notas de lore) espalhadas pelo mundo e interações com NPCs curiosos e bem caracterizados. Não é uma narrativa expositiva, mas sim uma que vai sendo construída pela curiosidade do jogador em explorar e descobrir os segredos daquele reino em ruínas. A abordagem funciona bem, mantendo o foco no gameplay enquanto oferece substância para quem quiser se aprofundar.
Alguns chefes são memoráveis pela grandiosidade e criatividade, como a luta contra o Grão-Mestre, que foi uma surpresa absolutamente positiva na sua mecânica. Por outro lado, é preciso citar que nem todos os encontros são tão polidos. O chefe da caverna e o chefe-planta de “sinal vermelho” são, em termos técnicos, frustrantes e podem ser considerados pontos baixos na curva de dificuldade cuidadosamente ajustada do jogo.
A opção de cooperativo online é um acerto monumental. Jogar Perennial Order com um amigo é uma experiência completamente diferente e visceral, uma verdadeira volta à era de ouro dos co-op. A câmera pode ficar um pouco travada com dois jogadores, mas é um trade-off mais do que aceitável pela diversão de enfrentar esse inferno ao lado de alguém. Mesmo em single-player, a jornada solitária é profundamente satisfatória.

Conclusão: Vale a Pena?
Perennial Order é daqueles jogos que se enterram na sua memória. É brutal, belo, às vezes injusto, mas sempre justo em sua demanda por maestria. As críticas que se podem fazer a ele – a navegação ocasionalmente confusa, as hitboxes irregulares e a frustração com o movimento de parry – são, de certa forma, parte do que o torna único e autêntico em sua visão desafiadora.
Se você é fã de jogos soulslike, de desafios que exigem paciência e prática para serem superados, e aprecia uma direção de arte deslumbrante acompanhada de uma trilha sonora imersiva, Perennial Order é uma joia escondida que você não pode perder. É um jogo de alto valor, com cerca de 11 horas de gameplay base e conteúdo extra robusto para os completionists. A desenvolvedora merece reconhecimento por criar uma experiência tão crua e cativante. Sim, eu recomendo muito, mas prepare seu estômago – e seu controle – para uma surra das boas.
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