Se você é fã do gênero “survivor” que explodiu na esteira de Vampire Survivors, provavelmente já viu dezenas de clones tentando capturar a mesma magia. É um mar de jogos que prometem muita coisa e entregam pouco. Machick 2, no entanto, é aquele raro caso que não só entende a receita, mas também tem a coragem de adicionar seus próprios temperos, criando uma experiência que é ao mesmo tempo familiar e surpreendentemente fresca. Desenvolvido por uma talentosa equipe brasileira, o jogo coloca você no controle de uma galinha armada até os dentes em uma missão absolutamente caótica contra um exército de sapos invasores.
Vamos começar falando da jogabilidade, que é o coração de qualquer jogo do gênero. Machick 2 segue a fórmula estabelecida: você controla um personagem automaticamente, movendo-o por uma arena repleta de inimigos que surgem em ondas, enquanto seu arsenal ataca por conta própria. O objetivo é sobreviver o maior tempo possível, coletando gemas para subir de nível e escolhendo novos poderes e melhorias a cada evolução. Onde o jogo realmente brilha é na profundidade e variedade que oferece desde os primeiros minutos. A quantidade de conteúdo é simplesmente staggering. São inúmeras galinhas para desbloquear, cada uma com estatísticas e afinidades únicas que incentivam estilos de jogo diferentes. As varinhas (as armas iniciais) são diversas e possuem um sistema de craft no hub central, permitindo uma personalização profunda antes mesmo de iniciar uma partida.

A progressão de estágio é um dos maiores acertos. Diferente de muitos outros jogos do gênero que se focam em modos infinitos, Machick 2 oferece fases estruturadas com um chefe no final. Derrotá-lo não só avança a narrativa, mas também desbloqueia um modo infinito para aquela fase específica. Isso dá um senso de propósito muito bem-vindo. O sistema de evolução de habilidades é robusto, onde cada skill pode ser melhorada e, posteriormente, evolui para uma de três opções diferentes, adicionando uma camada estratégica significativa às escolhas do jogador. Ainda há um sistema de fusão de habilidades no endgame, que permite combinações poderosas e inesperadas. A sensação de descobrir uma “build” que funciona perfeitamente é extremamente gratificante. No entanto, é preciso apontar um ponto de atrito: o endgame. Em runs muito longas, especialmente nas fases finais e contra os chefes, a jogabilidade pode se tornar um teste de paciência. Chefes com múltiplas fases e uma quantidade colossal de pontos de vida podem estender uma batalha por dezenas de minutos, criando um período de “tempo lixo” onde a emoção dá lugar à repetição. É um problema de balanceamento que os desenvolvedores já sinalizaram estar ajustando com updates constantes.
Falando em gráficos, Machick 2 adota um estilo cartoonizado e vibrante que funciona muito bem. A arte é colorida, os personagens têm um design charmoso e as animações, embora simples, são eficazes. A maior virtude visual do jogo é a clareza: mesmo com centenas de inimigos, dezenas de projéteis e efeitos especiais na tela, raramente o jogador fica perdido ou não consegue distinguir o que é uma ameaça. A diversidade de modelos tanto para as galinhas jogáveis quanto para os sapos inimigos é louvável, mantendo o visual interessante por muitas horas. A interface é limpa e informativa, apresentando todos os dados necessários sem poluir a tela. É um jogo que não tenta ser um triunfo técnico, mas acerta em cheio na consistência e no apelo do seu estilo artístico.

A camada de som é talvez a mais funcional do pacote. Os efeitos sonoros são adequados, dando o feedback necessário aos ataques e coletáveis. A trilha sonora é energética e se encaixa no tom caótico do jogo, mas não é particularmente memorável. Um ponto que poderia ser melhorado, como apontado por alguns jogadores, é a sonoplastia dos impactos. Adicionar sons de impacto mais satisfatórios e “crunchy” elevaria significativamente a sensação de poder do arsenal do jogador. É uma daquelas nuances que, quando bem feitas, transformam uma boa jogabilidade em uma ótima.
Quanto à história, Machick 2 não se leva muito a sério, e isso é uma qualidade. A premissa é simples e divertida: as galinhas estão em guerra contra os sapos. A narrativa é entregue de forma leve e descontraída, servindo mais como pano de fundo para a carnificina do que como um elemento central. Ela cumpre seu papel de contextualizar a ação e adicionar uma pitada de charme ao universo do jogo. A comunidade inclusive abraçou essa temática, com a própria conta oficial do jogo nas redes sociais brincando com slogans como “A galinha必将收服 o sapo!” (A galinha certamente recuperará o sapo!), mostrando o engajamento descontraído dos desenvolvedores.
Um dos aspectos mais impressionantes de Machick 2 não está dentro do código, mas sim no suporte pós-lançamento. Os desenvolvedores são notavelmente ativos, frequentando fóruns, lendo comentários e implementando ajustes e novos conteúdos em um ritmo impressionante. Essa dedicação é rara e merece todos os elogios, garantindo que os pontos fracos identificados pela comunidade, como o balanceamento do endgame, estão sendo constantemente abordados.

Conclusão: Vale a Pena?
Machick 2 é um exemplo brilhante de como um jogo pode se inspirar em um sucesso sem ser uma mera cópia. Ele pega a base de Vampire Survivors e a expande com uma quantidade generosa de conteúdo, sistemas profundos de personalização e uma progressão por estágios que dá ao jogador um objetivo tangível. A variedade de personagens, armas e builds é colossal, garantindo uma rejogabilidade enorme. Embora sofra com problemas de balanceamento em suas fases mais avançadas, criando sessões de “grind” desnecessárias, a postura proativa dos desenvolvedores inspira confiança de que estas são questões temporárias.
A pergunta final é: eu recomendo? A resposta é um retumbante sim. Machick 2 oferece uma experiência viciante, bem polida e com uma relação custo-benefício absurdamente positiva. Para o preço pedido, você recebe centenas de horas de diversão caótica. É um daqueles jogos indie que você compra para apoiar e acaba se surpreendendo com a qualidade e o amor depositados em cada pixel. Se você curte o gênero survivor, não pense duas vezes: adicione Machick 2 à sua biblioteca e prepare-se para uma guerra de galinhas e sapos que vai te prender por um bom tempo. É um título que não só honra suas influências, mas também as supera em muitos aspectos.
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