Katanaut emerge como uma experiência intrigante no cenário dos roguelites, uma tentativa ambiciosa de fundir a agressividade frenética de Dead Cells com a atmosfera opressiva e de horror espacial de Dead Space, tudo envolto numa estética synthwave que promete uma viagem visual e auditiva única. Desenvolvido majoritariamente por um único estúdio, o jogo carrega consigo o peso da comparação com esses gigantes e, na maior parte do tempo, consegue se sustentar com méritos próprios, apesar de alguns tropeços notáveis.
A primeira impressão ao iniciar uma partida de Katanaut é inegavelmente impactante. O design visual opta por um pixel art detalhado e cheio de personalidade. Os cenários, embora mergulhados na paleta de cores esperada do retro-wave – muitos roxos, azuis e rosas neon –, conseguem evocar uma sensação de isolamento e perigo. No entanto, essa escolha estética apresenta um dos seus primeiros contratempos. A legibilidade do ambiente pode ser um problema. Itens de coleta, fragmentos de lore e interagíveis específicos nem sempre se destacam adequadamente do pano de fundo, obrigando o jogador a uma varredura visual minuciosa que pode quebrar o ritmo e, ocasionalmente, levar a frustração por perder um upgrade crucial. Os designs dos inimigos, claramente inspirados na franquia Dead Space, são um ponto alto, sendo criativos e assustadores na medida certa, com animações fluidas que conferem peso aos confrontos.

No campo do som, Katanaut é competente. A trilha sonora é composta por batidas synthwave eletrizantes que se adequam perfeitamente ao tema de cortar alienígenas no espaço. Contudo, há uma certa genericidade que pode, após algumas horas, tornar a experiência sonora um tanto cansativa para alguns jogadores, um fenômeno comum em jogos que abraçam tão fortemente um gênero musical específico. Os efeitos sonoros são satisfatórios: o som do metal da katana cortando quitinianas, os ruídos visceral dos inimigos e os alertas sonoros dos ataques inimigos são todos bem implementados, contribuindo para a feedback tátil do combate.
O cerne de qualquer jogo do gênero é a jogabilidade, e é aqui que Katanaut se mostra mais divisivo. O combate é, ao mesmo tempo, seu maior trunfo e sua maior fonte de frustração. Inspirado na precisão e fluidez de Katana ZERO, o sistema de ataques é rápido e exige timing. A adição de um sistema de stamina, porém, introduz uma camada de estratégia que nem sempre funciona de forma harmoniosa. Inicialmente, a sensação é de extrema estranheza e clunkiness. Gerenciar a stamina é crucial, e erros são punidos severamente, deixando o jogador paralisado por preciosos segundos à mercê dos ataques inimigos. Essa curva de aprendizado é íngreme e pode afastar jogadores menos persistentes.
Conforme se progride e se desbloqueiam upgrades que aumentam a pool de stamina ou reduzem seus custos, o fluxo de combate se torna mais natural e gratificante. A sensação de dominar o sistema, planejando os movimentos e ataques para não ficar vulnerável, é recompensadora. No entanto, mesmo depois dessa adaptação, a sensação de desconforto não desaparece completamente, ressurgindo em encontros contra chefes ou em salas lotadas de inimigos. A variedade de armas e builds é impressionante, com diversas katanas e habilidades “Éter” (efetivamente, magias) para descobrir e sincronizar. Infelizmente, o balanceamento parece desequilibrado em alguns aspectos, com muitas armas de Éter consumindo quantidades exorbitantes de stamina para um dano que não parece justificar o custo, incentivando builds mais físicas.

A história de Katanaut é o que se espera de um roguelite: uma premissa básica que serve como pano de fundo para a ação repetitiva. O jogador assume o papel de um guerreiro em um cenário de horror espacial, e a narrativa é contada principalmente através de fragmentos de lore espalhados pelos corredores da estação espacial. A inclusão de flashbacks jogáveis é um acréscimo bem-vindo que ajuda a contextualizar a jornada sem comprometer o ritmo. É um enredo funcional, que cumpre seu papel sem roubar o holofote da jogabilidade principal.
Tecnicamente, o jogo parece sólido, embora relatos de bugs menores, como um específico que prende a tela em preto após um diálogo particular, tenham sido reportados. A sensação de alguns jogadores com relação aos hitboxes também merece menção. Em certos momentos, há uma desconexão entre a animação e a área de colisão real, tanto dos ataques do jogador quanto dos inimigos, levando a golpes que parecem acertar mas não registram, ou ataques inimigos que atingem de forma counter-intuitiva. Isso pode ser atribuído a um período de adaptação, mas é uma inconsistência que foi notada por mais de um jogador.
O sistema de progressão, fortemente inspirado em Dead Cells, é robusto. Após cada run, recursos são coletados para desbloquear permanentemente novas armas, habilidades e melhorias no hub central. A sensação de progressão constante está presente, sempre oferecendo um novo objetivo para tentar na próxima investida. O pós-jogo, com seus “modos warp”, oferece uma vida longa considerável para os fãs do gênero.

Conclusão: Vale a pena a viagem espacial?
Katanaut é um jogo de contrastes. Ele é visualmente deslumbrante, mas às vezes ilegível. Seu combate é profundamente gratificante quando dominado, mas inicialmente desajeitado e às vezes frustrante devido ao sistema de stamina e a possíveis issues de hitbox. Sua trilha sonora é imersiva, mas pode se tornar monótona.
A pergunta final não é se Katanaut é um bom jogo, mas para quem ele é um bom jogo. Para os fãs hardcore de roguelites que anseiam por uma experiência desafiadora e não se importam em superar uma curva de aprendizado inicial acentuada, Katanaut é uma recomendação fácil. A quantidade de conteúdo, a profundidade das builds e a satisfação de dominar seu combate único são mais do que suficientes para justificar o investimento. No entanto, para jogadores casuais ou那些 que buscam uma experiência mais imediatamente acessível e fluida, os obstáculos iniciais podem ser um impedimento significativo.
Em resumo, Katanaut não é perfeito, mas é uma obra cheia de personalidade e ideias ambiciosas que, na maior parte, funcionam. É uma recomendação cautelosa, mas uma recomendação nonetheless. Se você tem estômago para seus desaifos iniciais e paixão pelo gênero, provavelmente encontrará uma joia bruta e viciante escondida na escuridão do espaço.
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