HomeReviewsREVIEW: Dark Atlas: Infernum – Uma Viagem Sombria e Imersiva ao Horror...

REVIEW: Dark Atlas: Infernum – Uma Viagem Sombria e Imersiva ao Horror Psicológico

Quando um jogo de horror decide abandonar a dependência de sustos baratos e apostar tudo na construção de uma atmosfera que corrói a sua sanidade lentamente, é sinal de que estamos diante de algo especial. É exatamente isso que Dark Atlas: Infernum propõe, e depois de várias horas mergulhado em seus corredores sombrios e dimensões distorcidas, posso afirmar que a experiência é, na maior parte do tempo, magistralmente assustadora. Desenvolvido pelo estúdio independente Night Council Studio, este título é uma adaptação do universo literário de Álvaro Aparicio e se apresenta como um dos mais convincentes exemplos de horror psicológico e cósmico dos últimos tempos, especialmente considerando que é um projeto de uma equipe tão enxuta.

Vamos começar falando dos gráficos, porque é aqui que o jogo já te prende desde os primeiros segundos. Não espere a superfície polida e os efeitos luminosos de um Unreal Engine 5; a beleza de Dark Atlas: Infernum é uma beleza austera, suja e intencional. A engine utilizada, embora não seja das mais famosas, é manuseada com uma maestria impressionante para criar ambientes opressivos. A iluminação é a verdadeira estrela. Luzes que piscam, deixando você na escuridão total por segundos que parecem uma eternidade, feixes de lanternas que cortam a névoa e revelam silhuetas perturbadoras, e sombras que parecem se mover no canto do seu olho. Os cenários, como o mansardado enorme e o hospital decadente, são repletos de detalhes narrativos. Você vê a história na parede descascada, na mobília abandonada, nos símbolos estranhos riscados no chão. É um design de nível que convida à exploração minuciosa, mesmo quando cada fibra do seu ser pede para você correr. Texturas podem não ser as de mais alta definição em alguns pontos, mas isso quase que se soma ao charme obscuro e à sensação de estar num lugar que está literalmente desmoronando, tanto fisicamente quanto dimensionalmente.

Se a visão te prende, o som é o responsável por arrancar você da zona de conforto. A trilha sonora é um personagem por si só, composta por drones ambientes melancólicos e estalidos dissonantes que aumentam a tensão de forma constante. Mas o verdadeiro mérito está no design de som ambiental. Os sussurros são perfeitos – às vezes você não tem certeza se ouviu algo ou se foi sua mente preenchendo o vazio com medo. Passos ecoam em corredores distantes, portas rangem sem motivo aparente, e os ruídos das entidades que vagueiam pelos locais são genuinamente inquietantes. A dublagem, tanto em inglês quanto em espanhol (com a participação de Noviembre Nocturno), é de altíssima qualidade, entregando as linhas de diálogo e os registros de áudio coletáveis com um peso dramático que enriquece profundamente a narrativa. Um ponto negativo aqui, no entanto, são justamente alguns desses áudios coletáveis. Eles são narrativamente ricos, mas muitos são longos demais, durando mais de dois minutos, e exigem que você fique parado próximo a um rádio para ouvir. Em um jogo que constrói tensão através do movimento e da exploração, esses longos períodos de inatividade quebram o ritmo de forma considerável.

jogabilidade de Dark Atlas: Infernum segue uma linha clássica do gênero de horror em primeira pessoa, com fortes influências de títulos como Amnesia ou Outlast, mas com uma identidade própria. Você assume o papel de Natalia Asensio, uma grã-mestre de uma ordem esotérica, e sua ferramenta principal é uma lanterna, essencial para iluminar o caminho e descobrir pistas. A movimentação é ponderada, dando peso ao personagem, e os controles são responsivos – algo vital quando você precisa se esconder ou fugir. O jogo alterna entre fases de exploração e resolução de puzzles, momentos de furtividade e sequências de perseguição intensas. Os puzzles são, em sua maioria, muito bem construídos e integrados ao ambiente, exigindo observação e raciocínio lógico. Alguns podem ser verdadeiramente desafiadores, e a ausência de um sistema de mapa tradicional transforma a orientação em um puzzle por si só, o que vai agradar uns e frustrar outros.

Falando em frustração, as seções de perseguição podem ser um ponto divisivo. Elas são tensas e aterrorizantes, mas em certos momentos a inteligência artificial dos perseguidores e a disposição do cenário podem levar a tentativas e erros um pouco repetitivos, quebrando a imersão. É um tropeço comum no gênero, mas que aqui se faz notar. Outro aspecto técnico que merece menção é o sistema de salvamento. O jogo utiliza checkpoints automáticos, o que não é problema em si, mas há relatos de que o progresso na coleta de alguns itens pode ser perdido ao morrer ou ao recarregar um checkpoint, o que é um inconveniente desnecessário.

história é, sem dúvida, um dos pilares mais fortes de Dark Atlas: Infernum. Baseado no livro Atlas Negro, o jogo se insere no universo transmedia da Saga Radiata, o que confere uma profundidade lore enorme para quem quiser se aventurar. No entanto, não é necessário conhecimento prévio para apreciar a narrativa principal. A trama, que coloca Natalia presa em um porão enquanto o mundo lá fora entra em colapso, é apresentada através de documentos, gravações de áudio e ambientação. É uma história de horror cósmico, de realidades que se sobrepõem e de conhecimentos proibidos, executada com um tom esotérico e apocalíptico muito convincente. A sensação é de estar dentro de um conto de H.P. Lovecraft moderno, onde o horror não vem apenas de monstros, mas da compreensão gradual de um universo hostil e indiferente. A narrativa é fragmentada, exigindo que o jogador junte as peças, o que torna cada descoberta significativa e recompensadora.

Em conclusão, Dark Atlas: Infernum é uma joia robusta e assustadora no cenário do horror independente. Ele acerta de forma esmagadora nos elementos mais importantes: cria uma atmosfera inigualável, sustenta uma narrativa fascinante e oferece uma jogabilidade sólida e imersiva. Tem seus tropeços, principalmente na fluidez de algumas mecânicas de perseguição e no design questionável de alguns sistemas de progresso, mas esses pontos negativos são ofuscados pela força de sua visão artística e pela densidade de seu mundo.

Recomendo o jogo? Absolutamente sim. Dark Atlas: Infernum é uma recomendação fácil para qualquer fã de horror psicológico que valorize atmosfera e narrativa acima de tudo. É um jogo que não te assusta apenas com sustos, mas com ideias, com silêncios e com a impressão duradoura de que algo profundamente errado está acontecendo nas entrelinhas da realidade. Night Council Studio demonstrou uma habilidade rara em seu primeiro título, e mal posso esperar para ver aonde essa escuridão os levará a seguir. Se você está disposto a uma jornada lenta, meticulosa e verdadeiramente aterrorizante, mergulhe de cabeça neste atlas. Só não diga que não foi avisado sobre o que habita nas suas sombras.

NÃO DEIXE DE CONFERIR MAIS REVIEWS AQUI OU NA NOSSA CURADORIA NA STEAM.

Mais recentes

Detonados

RPS Games
RPS Games
Apaixonado por games desde sempre, tive o prazer de acompanhar grande parte da evolução dos games. RPG, Ação, Aventura, FPS, etc jogo de tudo.

Deixe um comentário!

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.