Depois de mergulhar algumas horas no mundo de Altheia: The Wrath of Aferi, é impossível não ficar impressionado com a ambição deste título indie. Desenvolvido com um carinho evidente pela tradição dos grandes action-RPGs de aventura, o jogo consegue, na maior parte do tempo, criar uma experiência cativante que homenageia seus inspiradores sem se tornar uma mera cópia. Se você é daqueles que anseia por um mundo aberto para explorar, quebra-cabeças desafiadores para decifrar e uma atmosfera imersiva, este jogo tem grandes chances de te fisgar.
Vamos começar pelo que mais salta aos olhos literalmente: os gráficos. A direção de arte de Altheia é simplesmente deslumbrante. O jogo emprega um estilo visual que mesga elementos cel-shading com uma paleta de cores vibrantes e vivas, criando um mundo que parece uma pintura em movimento. É um prazer genuíno simplesmente correr pelos campos, explorar cavernas escuras ou escalar montanhas apenas para apreciar a vista.

Os ambientes são ricos em detalhes e transmitem uma sensação de mundo vivo e habitado, com pequenos objetos contando histórias silenciosas sobre o universo do jogo. Tecnicamente, o motor é extremamente bem-otimizado – roda em praticamente qualquer configuração moderna sem engasgos –, mas é inegável que a falta de opções gráficas mais profundas no menu é uma lacuna. Você basicamente define a resolução e mexe no brilho. Para um jogo tão bonito, a inclusão de ajustes para sombras, texturas ou efeitos de partícula seria muito bem-vinda para os jogadores que gostam de fine-tune.
No capítulo de sons, Altheia: The Wrath of Aferi acerta em cheio. A trilha sonora é um ponto altíssimo, com composições que variam entre melodias suaves e tranquilas para os momentos de exploração, até temas épicos e intensos que acompanham os combates e descobertas importantes. A qualidade da orquestração é notável para um projeto independente, conseguindo ser tanto cativante quanto emocionalmente ressonante, elevando significativamente a imersão. Os efeitos sonoros também são competentes, desde o ruído metálico do embate de espadas até os sons ambientais da floresta, tudo soa claro e no lugar certo. Uma menção de honra para a mixagem de áudio, que balanceia perfeitamente a música e os efeitos, sem que um sobreponha o outro.
A jogabilidade é onde reside o coração de qualquer jogo do gênero, e aqui temos um pacote sólido com alguns altos e baixos. A exploração é fantástica. O mundo é repleto de segredos, caminhos alternativos e cantos escondidos que recompensam a curiosidade do jogador. Os puzzles, principalmente os encontrados nas masmorras, são um dos maiores trunfos do jogo. Eles são desafiadores e exigem lógica e uso inteligente das ferramentas que você adquire, e a sensação de superar um obstáculo particularmente difícil é extremamente gratificante. A progressão, clássica do gênero, te presenteia com novos items que abrem novas áreas para explorar, mantendo um ciclo de feedback muito satisfatório.

O combate, no entanto, é um pouco divisivo. A base é simples e funcional: ataques rápidos, ataques pesados, esquiva e o uso de um arco para ataques à distância. A sensação de impacto nos golpes é boa e responsiva. O problema reside numa certa “estranheza” (jankiness) ocasional, principalmente na transição entre animações ou no targeting de inimigos, que pode falhar em momentos cruciais. Alguns inimigos exigem o uso de mecânicas específicas, o que adiciona uma camada tática bem-vinda, mas a execução nem sempre é tão suave quanto poderia ser. Um ponto de irritação particular, e isso é algo que espero que seja corrigido em um patch, é a configuração de sensibilidade da câmera. As configurações padrão são incrivelmente lentas e “pesadas”, tornando a exploração e o combate uma experiência um pouco frustrante até que você se acostume a aumentar a sensibilidade para valores máximos manualmente. Pior ainda: o jogo, pelo menos na versão reviewada, não salvava essas preferências, obrigando a reajustar a cada inicialização.
Em relação à história, Altheia: The Wrath of Aferi apresenta uma premissa interessante, mas sua execução é um tanto quanto apressada. O enredo central, que envolve uma maldição e uma jornada para salvar a terra de Altheia, serve bem como motor para impulsionar o jogador de uma área para outra. No entanto, os eventos narrativos principais sometimes acontecem em um ritmo acelerado demais, sem permitir que os personagens ou os momentos dramáticos respiraram e se desenvolvam plenamente. Existe um pano de fundo lore interessante, com fragmentos de história espalhados pelo mundo, mas a game não os integra de forma tão eficaz na narrativa principal, deixando algumas pontas soltas e motivações pouco claras. Os personagens são carismáticos, mas poderiam ser mais profundos. É uma história funcional que serve ao propósito de contextualizar a aventura, mas dificilmente será lembrada por sua narrativa revolucionária.

Conclusão: Vale a Pena a Jornada?
Altheia: The Wrath of Aferi é um daqueles jogos indie onde os acertos ofuscam em grande parte suas falhas. A combinação de uma direção de arte sublime, uma trilha sonora magnífica, uma exploração prazerosa e puzzles inteligentes cria uma experiência genuinamente encantadora e desafiadora. Os problemas com a fluidez do combate e, principalmente, a configuração irritante da câmera são contratempos reais que esperamos ver resolvidos no futuro.
No final das contas, a pergunta é: eu recomendo Altheia: The Wrath of Aferi? A resposta é um retumbante sim. Se você é um fã de jogos como Zelda, Rime ou Oceanhorn, e está procurando uma aventura indie que entende perfeitamente o que torna esses jogos tão especiais – a sensação de descoberta e superação –, você provavelmente vai adorar o tempo que passar neste mundo. É um jogo cheio de coração, personalidade e desafio genuíno. Apenas esteja preparado para ter um pouco de paciência com a câmera e para se maravilhar com um dos mundos virtuais mais visualmente cativantes do ano.
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