Analisar WUCHANG: Fallen Feathers é uma tarefa que exige um certo equilíbrio. É preciso separar a experiência técnica e as qualidades objetivas do jogo daquela barreira intangível que é o design de desafio, algo profundamente pessoal para cada jogador. Vou ser direto: este é um dos soulslikes mais impressionantes que já joguei nos últimos tempos, com uma identidade visual forte e sistemas de jogo robustos. No entanto, é crucial começar esta análise com um aviso sonoro, não sobre bugs técnicos – que em sua maioria foram resolvidos desde o lançamento –, mas sobre a filosofia por trás dos seus chefes.
A minha jornada por WUCHANG foi, em grande parte, marcada por uma sensação de frustração crescente diante desses encontros cruciais. Para contextualizar, não sou novato no gênero; tenho as platina de Dark Souls 1 até 3, Bloodborne, Elden Ring e Nioh 1 e 2 no meu histórico. Estou acostumado a morrer e a aprender. Mas aqui, a grande maioria dos chefes parece operar num ritmo frenético e ininterrupto que, na minha percepção, prioriza quase que exclusivamente reflexos ultrarrápidos e uma memória muscular quase perfeita. São entidades hiperagressivas, com cadeias de ataque que parecem não ter fim e janelas de punição incrivelmente curtas.

Esse design é acentuado pela ausência total de cooperação voluntária com outros jogadores. Em momentos de desespero em outros títulos do gênero, sempre existe a válvula de escape de chamar um amigo ou um estranho para ajudar. Em WUCHANG, isso não existe. Existem ajudas de NPCs em algumas lutas, mas a mecânica de invocação é arriscada: você precisa realizar a ação dentro da arena do chefe, o que leva vários preciosos segundos onde você está completamente vulnerável. Não foram raras as vezes em que fui rapidamente eliminado por uma dessas “combos de pânico” enquanto tentava, justamente, buscar uma ajuda para nivelar o campo de batalha. Foi uma experiência que, em vários momentos, se tornou mais uma provação do que uma diversão motivadora.
Dito isto, e este é um ponto fundamental, seria profundamente injusto reduzir WUCHANG: Fallen Feathers apenas a essa minha experiência subjetiva com os chefes. O jogo é, em muitos outros aspetos, excecional e merece uma análise técnica detalhada das suas qualidades. A razão pela qual ainda dou uma avaliação positiva é porque o pacote completo é simplesmente muito bom, e o que para mim foi um obstáculo, para outros pode ser o atrativo principal.
Gràficos e Atmosfera: Um Pesadelo Histórico de Cortar a Respiração
Do ponto de vista técnico e artístico, WUCHANG é uma obra-prima. Os desenvolvedores conseguiram criar uma atmosfera densa e opressiva que mergulha o jogador num mundo perturbador baseado na dinastia Ming. Os ambientes são diversificados e meticulosamente detalhados, desde florestas sombrias e decadentes até interiores de edifícios complexos e claustrofóbicos. A paleta de cores é sombria, mas com contrastes inteligentes que guiam o olhar e destacam elementos importantes. A iluminação desempenha um papel crucial, criando sombras longas e recantos escuros que escondem perigos, aumentando imensamente a tensão durante a exploração. A performance na versão atual, pelo menos no PC, mostrou-se estável e fluida, sem os problemas de frame drops ou lags que foram reportados no lançamento. A otimização parece ter sido um foco pós-lançamento, e isso é notório numa experiência consistente.

Jogabilidade e Exploração: A Alma de um Verdadeiro Soulslike
Onde WUCHANG realmente brilha é na sua jogabilidade e no design de mundo. A sensação de controle sobre a personagem é precisa e responsiva. A exploração é um dos pontos mais altos, com um level design inteligente e profundamente interligado. Descobrir novos caminhos, atalhos que levam de volta a um ponto de controle anterior e segredos escondidos é constantemente recompensador. O mundo não é totalmente aberto como Elden Ring, mas oferece uma quantidade significativa de rotas alternativas e áreas opcionais, garantindo que o senso de descoberta esteja sempre presente.
O sistema de combate é robusto e satisfatório. A esquiva, em particular, é um destaque; ela flui perfeitamente com os combos e a movimentação, criando uma dança mortal que é incrivelmente gratificante quando dominada. A progressão do personagem é profunda, com um sistema de habilidades extenso e um arsenal variado de armas legais. Uma das melhorias mais bem-vindas no gênero é a mecânica de upgrade: quando você aprimora um tipo de arma, todas as armas daquele mesmo ramo são automaticamente elevadas para o mesmo nível, eliminando a punição por querer experimentar uma nova arma encontrada tardiamente no jogo. Além disso, a possibilidade de reespecular os pontos de habilidade gratuitamente e a qualquer momento é uma adição fantástica que incentiva a experimentação com builds diferentes, desde magia até combate corpo a corpo puro.
Algumas pequenas críticas podem ser feitas à gestão de itens. O jogo oferece uma grande variedade de consumíveis e ferramentas, mas limita o jogador a apenas quatro espaços no inventário rápido para equipá-los, o que acaba sendo um pouco restritivo. Seria benéfico ter mais slots ou a capacidade de personalizar melhor esse aspecto.

Conclusão: Uma Recomendação Sólida com um Único e Grante Avizo
Então, devo recomendar WUCHANG: Fallen Feathers? A resposta é um sim categórico, mas com uma ressalva que não pode ser ignorada. Para os fãs do gênero soulslike que buscam um mundo fascinante para explorar, um combate desafiador e recompensador, e sistemas de progressão profundos e flexíveis, WUCHANG é uma joia. A sua qualidade técnica, a atmosfera envolvente e a quantidade de conteúdo justificam plenamente o investimento. É um daqueles jogos que pode não te conquistar logo nos primeiros momentos, mas que gradualmente revela sua profundidade e qualidade, tornando-se uma experiência memorável.
No entanto, a minha advertência inicial permanece. Se você, como eu, sabe que tem dificuldades com chefes extremamente rápidos, agressivos e com padrões de ataque complexos, e se a ausência de uma opção de cooperação para contornar esses obstáculos é um fator decisivo, é preciso estar ciente deste aspeto. O design dos chefes em WUCHANG é desafiador de uma forma muito específica e pode não agradar a todos. É uma questão de preferência pessoal e tolerância a um tipo específico de desafio. No final das contas, WUCHANG: Fallen Feathers é um teste de habilidade pura e reflexos, embalado num dos ambientes mais belos e bem construídos do gênero. Se estiver preparado para o desafio, mergulhe de cabeça. A recompensa, apesar do suor e talvez de algumas lágrimas de frustração, vale muito a pena.
NÃO DEIXE DE CONFERIR MAIS REVIEWS AQUI OU NA NOSSA CURADORIA NA STEAM.

