O cenário é sempre o mesmo: um posto de gasolina isolado, envolto por uma floresta densa e um silêncio quase palpável. Você é o funcionário do turno da noite, e sua missão parece simples: realizar uma série de tarefas de fechamento e sair ileso. Esta é a premissa central de Before Exit: Gas Station, um jogo que se enquadra naquela categoria peculiar de simulações de tarefas com uma pitada generosa de horror psicológico e elementos de anomalia. A atmosfera é, sem dúvida, o seu maior trunfo. O ambiente limitado, divido em poucas estações de trabalho, cria uma sensação de claustrofobia, enquanto a iluminação e a trilha sonora minimalista trabalham em conjunto para manter o jogador em um estado constante de alerta. A expectativa de que algo perturbador possa acontecer a qualquer momento, mesmo que nem sempre se materialize, é um combustível poderoso para a tensão.
Analisando os gráficos, a abordagem do jogo é funcional e estilizada. Não espere um realismo fotográfico; os visuais optam por uma estética mais limpa que, paradoxalmente, contribui para a estranheza do ambiente. Os objetos possuem uma clareza que facilita a interação, essencial para os quebra-cabeças, mas a paleta de cores sombria e a iluminação que deixa cantos escuros garantem que a vibe inquietante seja mantida. É uma escolha inteligente, pois prioriza a jogabilidade e a atmosfera sobre o polimento visual excessivo, algo que funciona muito bem para o gênero. Detalhes como pequenas texturas ou a forma como a luz incide em uma poça de gasolina no chão mostram um cuidado em construir um espaço crível, ainda que assustador.
A jogabilidade de Before Exit: Gas Station é onde o cerne da experiência reside. Os controles são, de fato, intuitivos. Um tutorial rápido e eficiente ensina as mecânicas básicas, e a partir daí o jogador é largado à sua própria sorte. Cada noite (ou fase) apresenta uma lista de objetivos a serem cumpridos antes que o chefe, uma figura onipresente e exigente, apareça para inspecionar o trabalho. A variedade de tarefas é um ponto positivo; desde a limpeza de vidros e a organização de ferramentas até a verificação de máquinas e o atendimento a clientes peculiares, há uma rotatividade que impede a atividade de se tornar completamente monótona. O desafio principal, porém, está em identificar as anomalias. Essas são quebras na realidade do posto, coisas que não deveriam estar ali ou que estão fora do lugar de uma forma inexplicável. Encontrá-las exige um olhar atento e paciência.
No entanto, é neste ponto que surge a crítica mais significativa em relação ao design de jogabilidade. O jogo se propõe a ter uma progressão com 48 cenários distintos, o que promete uma longevidade considerável. Contudo, jogadores relataram que, após avançar para a segunda semana, começam a se deparar com cenários já experimentados na primeira semana. Esta repetição forçada de fases pode ser interpretada como um mecanismo para esticar a duração do jogo, mas acaba por minar a sensação de progresso. Em vez de se sentir desafiado por novos quebra-c cabeças e situações, o jogador pode ter a impressão de estar refazendo tarefas por pura obstrução, o que pode levar ao cansaço e a uma eventual desistência. É uma falha de pacing que contrasta com a qualidade geral da proposta.
A história em Before Exit: Gas Station é sutil e fragmentada. Não é uma narrativa expositiva tradicional. Através de pequenos textos, “memórias” desbloqueáveis em fases especiais e o contexto geral, o jogador vai montando os pedaços da vida do personagem principal e sua relação com a esposa. O final, conforme mencionado por alguns, apresenta uma reviravolta que foge do óbvio, sendo elogiado por sua originalidade. A narrativa não é o foco principal, mas serve como um pano de fundo interessante que dá um propósito emocional à luta repetitiva do personagem para escapar daquele ciclo aparentemente infinito de trabalho noturno. A presença de múltiplos finais também adiciona uma camada de rejogabilidade para aqueles dispostos a persistir além da repetição de cenários.
O design de som merece um destaque especial. O jogo é, em muitos momentos, silencioso. Este silêncio não é uma ausência, mas sim uma ferramenta. Ele é quebrado por sons ambientais precisos: o vento assobiando, o zumbido de um refrigerador, o rangido de uma placa. E, é claro, pela aparição súbita do chefe quando um erro é cometido. O impacto sonoro dessa aparição é calculado para causar um sobressalto, e a atuação de voz do personagem do chefe é frequentemente descrita como autoritária e frustrante – no bom sentido, pois reforça a pressão sobre o jogador. A trilha sonora, quando presente, é discreta e melancólica, reforçando o tom de solidão e estranheza.
Em conclusão, Before Exit: Gas Station é uma experiência com qualidades marcantes, mas que sofre com decisões questionáveis de design de progressão. A atmosfera é imersiva e genuinamente tensa, a jogabilidade baseada em puzzles e na identificação de anomalias é gratificante, e a narrativa fragmentada adiciona uma camada de profundidade que engaja. Contudo, o sistema de repetição de fases, que se manifesta após as primeiras horas, pode ser um obstáculo significativo para muitos jogadores, transformando o desafio em enfado. A recomendação, portanto, é direcionada. Se você é um fã assumido de jogos do gênero “anomalia”, onde a observação meticulosa e a imersão atmosférica são mais importantes que uma ação frenética, e se está disposto a tolerar uma certa dose de repetição em troca de momentos de pura tensão psicológica, então Before Exit: Gas Station é um jogo que merece seu tempo e atenção. Caso contrário, a frustração com o loop de progressão pode ofuscar os muitos aspectos positivos que este posto de gasolina sombrio tem a oferecer.
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