Há uma sensação peculiar que surge quando você começa a jogar ASKA. Não é exatamente a mesma urgência frenética de outros survival games, nem a calma planejada de um simulador de cidade. É algo no meio-termo, uma pressão constante, mas administrável, para não apenas sobreviver, mas para fundar e nutrir uma comunidade. Depois de mergulhar fundo nas suas mecânicas, fica claro que ASKA é, antes de tudo, um jogo de gestão de aldeia com uma pele de survival nórdico. E é crucial entender essa premissa para não cair em expectativas equivocadas.
Vamos começar pelos gráficos, que são um dos primeiros pontos de impacto. ASKA opta por um estilo artístico estilizado, com texturas que lembram pinturas a óleo e uma paleta de cores que, embora dominada pelos verdes, cinzas e azuis típicos do tema, consegue criar cenários verdadeiramente deslumbrantes. O jogo não compete no campo do hiper-realismo, mas sim na construção de uma atmosfera coerente e imersiva.

A forma como a luz do sol filtra através das árvores densas, o brilho do fogo em uma noite fria, ou a maneira como a neve cobre gradualmente tudo durante o inverno são efeitos visuais muito bem executados. A física de destruição de árvores e pedras é satisfatória, dando um peso tangible às ações de coleta. No entanto, é importante notar que, conforme a aldeia cresce para dezenas de entidades e centenas de itens espalhados pelo chão, o desempenho pode sofrer algumas oscilações. Não é nada que comprometa a experiência gravemente, mas é uma consideração técnica para quem planeja erguer metrópoles tribais.
O campo sonoro complementa perfeitamente a experiência visual. A trilha sonora é discreta na maior parte do tempo, composta por melodias ambientais nórdicas que ganham destaque em momentos-chave, como um ataque de criaturas ou a chegada de uma nova estação. Os efeitos sonoros são cruciais para a imersão: o estalhar da fogueira, o som distante de um lobo uivando, o vento cortante no inverno e o trabalho ritmado dos aldeãos no campo criam uma camada de realismo que prende o jogador no mundo. A dublagem para os comandos dos aldeões, embora limitada, adiciona um toque de personalidade a esses personagens, ajudando a diferenciá-los de meros recursos automatizados.
A jogabilidade é onde ASKA verdadeiramente se define e, potencialmente, se divide com seu público. Quem chegar esperando um “Valheim 2.0” pode sair desapontado, mas quem busca uma experiência mais profunda de gestão encontrará um terreno fértil. O ciclo inicial é familiar: coletar recursos, craftar ferramentas básicas e construir um abrigo. No entanto, a curva de dificuldade escala rapidamente na direção da administração tribal. A mecânica central, e mais impressionante, é o recrutamento e a automação de aldeões. Diferente de outros jogos onde os NPCs são pouco mais que drones, os habitantes de ASKA possuem necessidades complexas – fome, sede, calor, felicidade – e especializações de trabalho que evoluem com o tempo.

Configurar a logística da aldeia é um quebra-cabeça profundamente recompensador. Atribuir funções, criar áreas de trabalho, estabelecer rotas de coleta e garantir que a cadeia de produção de recursos flua sem problemas exige atenção e planejamento estratégico. Quando bem feito, é incrivelmente satisfatório ver a aldeia funcionando como um organismo vivo, onde você pode simplesmente definir um projeto de construção complexo e observar os aldeões executarem toda a tarefa, do fundamento ao acabamento, enquanto você se ocupa com exploração ou defesa. É um sistema que exige paciência para ser dominado, mas que paga cada minuto investido.
No entanto, nem tudo é perfeito no reino nórdico de ASKA. O sistema de construção, embora robusto em termos de variedade de estruturas, sofre com a manipulação do terreno. Aplanar superfícies para construir é uma tarefa notoriamente difícil, muitas vezes resultando em uma aldeia cheia de “mini-penhasco” ou forçando o jogador a gastar recursos preciosos para criar bases elevadas e escadarias, o que pode quebrar a estética orgânica que o jogo parece buscar. Outro ponto de atrito é a microgestão de inventários. A alocação de listas brancas (whitelists) para itens específicos é feita por aldeão individual, e não por função ou edificação, o que pode se tornar uma tarefa tediosa e repetitiva em uma comunidade maior.
Quanto à história, ASKA atualmente não apresenta uma narrativa dirigida ou um arco principal claro. O “sentido” do jogo é emergente, criado pelas metas que o jogador estabelece para si mesmo: sobreviver ao primeiro inverno, derrotar um chefe específico, expandir a aldeia para um certo tamanho, ou simplesmente dominar todas as árvores de tecnologia. A progressão do personagem do jogador é mais vertical do que horizontal; você se torna incrivelmente forte no combate, capaz de derrubar árvores e inimigos com facilidade, mas falta uma árvore de habilidades mais diversificada que ofereça caminhos alternativos de desenvolvimento, além do simples aumento de poder.

A conclusão sobre ASKA é que se trata de um jogo de nicho excepcional, mas que ainda carrega as marcas de seu desenvolvimento em acesso antecipado. A sua recomendação depende quase inteiramente do que o jogador busca. Se a ideia de um survival focado em logística, planejamento de longo prazo e a construção lenta, porém gratificante, de uma comunidade autossustentável soa atraente, então ASKA é uma recomendação sólida e entusiástica. A profundidade dos sistemas de automação de aldeões e a pressão estratégica imposta pelas estações oferecem uma experiência rica e única.
Por outro lado, se a preferência é por um survival de ação mais direto, com menos ênfase em gestão de NPCs e mais na exploração e combate individual, pode haver uma desconexão. Os atuais problemas com o nivelamento de terreno e a microgestão excessiva de inventários são contrapontos válidos que precisam ser considerados.
No estado atual, ASKA já entrega uma base extremamente promissora e, o mais importante, divertida para o público certo. Com o polimento contínuo e a adição de mais conteúdo, como prometido no roadmap, ele tem todo o potencial para se tornar um título de referência no gênero de survival com gestão. Para aqueles dispostos a abraçar o papel de chefe tribal e liderar seu povo através das adversidades de um mundo nórdico implacável, ASKA é uma jornada profundamente recompensadora que vale cada hora investida. É um jogo que, apesar de seus solavancos, possui alma, e isso é algo que nenhum polimento técnico pode criar ou substituir.
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