Se tem uma coisa que a gente aprende rápido no mundo dos games é que promessa e potencial nem sempre andam de mãos dadas com a execução final. E é exatamente nesse território pantanoso que Discounty se encontra: uma experiência genuinamente divertida e com um charme inegável, mas que carrega consigo o peso evidente de ser uma obra que parece não ter atingido sua forma final completa. Vamos destrinchar isso direito.

A primeira impressão é, de fato, maravilhosa. Os gráficos de Discounty são um deleite visual. O estilo artístico é aquela vibe colorida e acolhedora, com um toque hand-drawn que remete aos melhores jogos indie de simulação e vida rural que a gente já viu por aí. Os personagens têm designs únicos e expressivos, e a paleta de cores do jogo é simplesmente aconchegante. A cidadezinha, sua loja e os arredores são cheios de detalhes que convidam à exploração. No entanto, é aqui que a gente esbarra no primeiro “mas”. O jogo sofre com problemas de performance inesperados, especialmente em hardwares menos potentes como o Steam Deck, onde as taxas de quadros podem despencar brutalmente, chegando a patamares injogáveis na casa dos 12 FPS em áreas mais movimentadas. É uma falha técnica signifcativa que mancha a experiência visual impecável.
A jogabilidade é o cerne de Discounty e, ao mesmo tempo, sua maior virtude e seu calcanhar de Aquiles. O loop central de gerenciar seu mercadinho de esquina é incrivelmente viciante. Organizar prateleiras, fazer estoque, atender clientes e cumprir pedidos especiais é uma mecânica sólida e satisfatória que te prende por boas horas. A sensação de progresso ao expandir a loja e desbloquear novos produtos é real. O problema, e é um problema considerável, é que essa mecânica parece ser apenas a fundação de algo muito maior que nunca foi construído.
A jogabilidade carece desesperadamente de profundidade. Itens prometidos, como o scanner, são introduzidos como o início de um sistema de automação que nunca se materializa. A IA dos NPCs é, para ser direto, frustrantemente rudimentar. É comum ver clientes travados, perdidos no caminho ou ficando irritados porque entraram dois minutos antes do fechamento e não foram atendidos a tempo – um problema de lógica de jogo básica que quebra completamente a imersão. A loja atinge um teto de upgrades muito rápido, e funcionalidades óbvias, como treinar funcionários para realizar tarefas além das mais básicas ou expandir significativamente o negócio, simplesmente não existem. É um esqueleto de uma simulação magnífica, esperando por carne e osso.

Quando o assunto é som, Discounty se sai competentemente. A trilha sonora é agradável, composta por melodias calmas e repetitivas que se encaixam perfeitamente no clima relaxante do jogo. Os efeitos sonoros são funcionais – o bip do caixa, o ruído das prateleiras sendo abastecidas – mas nada que se destaque ou seja memorável. É um trabalho correto, que cumpre seu papel sem ofuscar ou decepcionar.
Agora, sobre a história: Discounty tenta emoldurar sua simulação com uma narrativa leve sobre revitalizar uma cidade pequena. Os personagens têm seus pequenos arcos e diálogos, muitos dos quais são realmente bem-humorados e charmosos, adicionando personalidade ao mundo. No entanto, a história sofre do mesmo mal que o resto do jogo: é repleta de fios soltos e promessas não cumpridas. Vários edifícios e elementos interativos são apresentados como mistérios (a tal cabana é o exemplo perfeito) mas nunca levam a lugar nenhum, deixando o jogador com uma sensação de insatisfação e incompletude. O final, embora tenha seus momentos de surpresa, não consegue compensar fully a jornada truncada.
E não podemos ignorar o elefante na sala: a discussão around “woke culture” que alguns reviews mencionam. Após jogar horas a fio, é seguro afirmar que essas acusações são, no mínimo, infundadas. Discounty é um jogo que apresenta diversidade em seu elenco de personagens de uma forma natural e orgânica, longe de ser panfletária. A narrativa não se aprofunda em questões políticas complexas. Críticas nesse sentido parecem vir de uma leitura enviesada e precipitada, muitas vezes de jogadores que nem passaram da fase tutorial. O jogo merece ser avaliado por seus méritos e defeitos reais, não por uma suposta agenda que simplesmente não existe em sua construção.

Conclusão: Vale a Pena Comprar Discounty?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Discounty é, inegavelmente, um jogo divertido. Sua base é sólida, seu coração está no lugar certo e ele tem potencial para ser um título excelente, talvez até um sucesso do nível de Stardew Valley no futuro. A questão é: você está disposto a comprar o potencial ou o produto final?
Na sua estado atual, Discounty se sente inacabado. É uma demo prolongada, um early access que foi lançado como versão final. As 10-15 horas de gameplay são genuinamente agradáveis, mas são seguidas por uma parede de contenção onde a profundidade e os recursos adicionais deveriam estar. A falta de polimento técnico, especialmente em performance, e a série de mecânicas subutilizadas ou ausentes são deficiências difíceis de ignorar.
A recomendação, portanto, é condicional. Se você é um fã incondicional do gênero de simulação e gestão, e consegue tolerar jogos com ideias ambiciosas mas execução incompleta, você provavelmente vai extrair diversão suficiente de Discounty para justificar o investimento. É um jogo charmoso e com uma alma cativante.
No entanto, se você busca uma experiência completa, polida e com profundidade de mecânicas, talvez seja melhor aguardar. A esperança é que o sucesso comercial e a atenção de grandes criadores de conteúdo dêem aos desenvolvedores os recursos e o tempo necessários para realizar a visão ambiciosa que Discounty claramente possui. Existe uma jóia escondida aqui, mas ela ainda precisa ser lapidada. Fica a torcida para que isso aconteça.
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