Se você, como eu, é um fã daquela vibe clássica de filmes de terror como “Atividade Paranormal” ou “Poltergeist”, provavelmente já se pegou procurando jogos que capturem essa mesma essência. Aquele medo do que se esconde nas sombras, a tensão de vigiar câmeras de segurança esperando algo acontecer, e aquele jumpscare que, mesmo esperado, te faz pular da cadeira. Foi nessa busca que me deparei com Paranormal Night Shift, um jogo indie que promete entregar uma experiência de investigação paranormal tensa e imersiva. Depois de passar algumas noites (virtuais) dentro dessa casa mal-assombrada, posso dizer que o jogo não só entrega como supera expectativas em vários aspectos, mesmo com alguns deslizes técnicos que podem atrapalhar a imersão.
Vamos mergulhar nos detalhes que fazem de Paranormal Night Shift uma joia para os fãs do gênero, mas também apontar onde ele tropeça.
Gráficos: Atmosfera Anos 80 e Detalhes que Contam uma História
A primeira coisa que salta aos olhos em Paranormal Night Shift é a sua identidade visual. O jogo se passa nos anos 80, e a ambientação é simplesmente impecável. A casa onde a ação se desenrola é um personagem por si só, repleta de detalhes que contam a história da família que ali vive – e da entidade que agora a assombra. Dos papéis de parede vintage aos móveis e objetos espalhados, tudo foi meticulosamente planejado para criar uma sensação de familiaridade e decadência.

Os gráficos não são ultra-realistas, mas a estilização escolhida funciona perfeitamente para o proposta. O uso das luzes e sombras é um ponto altíssimo. A penumbra dos cômodos, iluminados apenas por lareiras, televisores estáticos ou lampadas fracas, cria uma atmosfera pesada e constantemente ameaçadora. As anomalias visuais, que são o cerne da jogabilidade, são bem implementadas. Desde um quadro que muda de posição até um objeto que desaparece completamente, a maioria das alterações é sutil o suficiente para exigir atenção genuína do jogador, mas não tão obscura a ponto de se tornar frustrante – na maioria dos casos, mas já vamos chegar lá.
Os momentos de jumpscare e as aparições da entidade “Judith” são bem executados visualmente, utilizando-se de efeitos de distorção e uma movimentação uncanny que realmente assusta. A escolha de não exibir a assombração o tempo todo, mantendo-a como uma ameaça rara e impactante, foi muito acertada.
Sons: A Trilha Sonora da Loucura (Com um Porém)
A sonoplastia é, sem sombra de dúvidas, um dos pilares do terror em Paranormal Night Shift. O jogo acerta em cheio na ambientação sonora. O silêncio é quebrado por rangidos de madeira, sussurros quase inaudíveis, gotas d’água, estalos e outros barulhos ambientais que te deixam constantemente em estado de alerta. A mixagem de som é crucial aqui, pois muitos desses sons podem ser pistas importantes de que uma anomalia está ocorrendo em algum cômodo específico.
A trilha sonora, composta por temas synthwave que remetem diretamente à década de 80, é fantástica e ajuda a imergir na época. No entanto, eis onde encontramos um dos principais problemas técnicos apontado por vários jogadores, inclusive por mim. Em diversos momentos, especialmente durante as conversas por rádio com o personagem Gary, a música de fundo simplesmente abafa as vozes dos personagens. É um problema de mixagem de áudio claro, onde os diálogos, que são fundamentais para a narrativa e para as instruções de gameplay, ficam perdidos sob a trilha sonora.
Isso quebra a imersão de forma significativa, pois você se peja forçado a confiar quase que exclusivamente nas legendas. É uma falha de QA (Quality Assurance) que espero que seja corrigida em uma atualização, pois a atuação de voz em si é muito boa, trazendo personalidade e um alívio cômico necessário à tensão constante.

Jogabilidade: Simples, Viciante e Desafiadora
A jogabilidade de Paranormal Night Shift é enganosamente simples. Você assume o papel de um investigador paranormal encarregado de monitorar as câmeras de segurança de uma casa assombrada. Seu trabalho é identificar e registrar “anomalias” – alterações no ambiente que indicam a presença espiritual. Cada noite (fase) apresenta um número crescente de câmeras e anomalias mais complexas.
O loop principal consiste em vasculhar meticulosamente cada feed de câmera, clicar nas anomalias para corrigi-las e gerenciar seu medômetro. Se você deixar o medo atingir níveis críticos ou deixar muitas anomalias passarem, Judith ficará mais forte e… bem, a visita dela se torna inevitável. A mecânica é fácil de entender, mas difícil de dominar, criando uma curva de aprendizado satisfatória.
A necessidade de vigilância constante e a pressão de saber que errar tem consequências diretas (e assustadoras) criam uma tensão palpável. O jogo é um teste de atenção e memória. Você precisa se lembrar de como cada cômodo era para notar o que mudou, e essa demanda cognitiva é o que torna a experiência tão envolvente. A adição de uma campanha cooperativa para duas pessoas online é um acerto fantástico, transformando a experiência em uma atividade social onde a comunicação e a divisão de tarefas são essenciais para sobreviver.
História: Uma Narrativa Surpreendentemente Sólida
Diferente de muitos jogos do gênero que focam puramente na jogabilidade, Paranormal Night Shift se esforça para apresentar uma narrativa coesa. A história é contada através de cutscenes cinematográficas que abrem o jogo e recapitulam os eventos entre cada noite. Essas sequências, com uma qualidade de produção surpreendente, lentamente desvendam a misteriosa história por trás da família e da entidade Judith.
Essa camada narrativa adiciona um peso significativo à experiência. Em vez de apenas completar tarefas, você se sente parte de uma investigação maior, com um desfecho que vale a pena ser descoberto. A história não é extremamente complexa, mas é eficiente em dar contexto e motivação, elevando o jogo acima de uma mera simulação de “encontre as diferenças assustadora”.

Conclusão: Vale a Pena o Turno Noturno?
Paranormal Night Shift é um daqueles jogos que entend perfeitamente o que quer ser e executa sua visão com maestria. Ele pega a fórmula estabelecida por títulos como “I’m On Observation Duty” e a expande com uma identidade visual marcante, uma atmosfera sonora aterrorizante (apesar dos problemas de mixagem) e uma camada narrativa que dá alma à experiência.
Os pontos negativos, como a sutileza excessiva de algumas anomalias que pode border a frustração e a já mencionada questão do áudio, impedem o jogo de ser considerado perfeito. No entanto, são deslizes que são amplamente ofuscados pelos acertos.
Em suma, Paranormal Night Shift é uma experiência compacta, com cerca de 2 a 4 horas de duração, mas extremamente densa e satisfatória. Ele respeita o seu tempo entregando um terror bem dosado, inteligente e que fica com você mesmo após desligar o PC. Se você é um fã de terror de baixo orçamento, de jogos de observação ou simplesmente quer uma boa dose de sustos em uma noite, este jogo é uma recomendação fácil. É um turno noturno que, apesar dos percalços, você não se arrependerá de fazer.
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